A importância da contra referência

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Atuando no NASF há mais de 01 ano no município de Vitória de Santo Antão – PE, venho vivenciando diversas experiências no contexto de atividades coletivas, porém, como psicóloga, lido com demandas de forma individual, com visitas domiciliares junto com a equipe de saúde da família, e também orientações técnicas, de acolhimento, de escuta. Quando identificada a necessidade de encaminhar algum comunitário para a referência de acompanhamento sistemático da rede de saúde municipal, eu faço. Como atuo na atenção básica, sou uma das responsáveis pelos encaminhamentos aos serviços especializados da Psicologia, podemos assim dizer.

Neste contexto, esperamos a contra referência, que nada mais é que o retorno desse serviço especializado em respaldo ao encaminhamento da atenção básica. Muito me inquieta o fato de que até semana passada, nunca havia recebido a esperada contra referência, não oficialmente. Por vezes encontrei nas unidades de saúde, algum comunitário que recebeu o encaminhamento, e muito informalmente perguntei se havia conseguido, e assim sabia se sim, ou se não. Com as visitas eu até consigo saber dos êxitos e dificuldades das famílias mais de perto, mas não é o caso das orientações.

Interessante que não conseguir efetivar o encaminhamento, para muitos, não implica no retorno ao serviço da unidade de saúde, e mais especificamente, NASF.

Mas o que quero relatar aqui é o fato de ter recebido, pela primeira vez, uma comunitária que foi encaminhada, e retorna à sua unidade de saúde para simplesmente dizer, com um sorriso estampado no rosto, que deu início ao seu acompanhamento psicoterápico. Mais do que isso, ver a satisfação em retornar e dizer: – Eu consegui. Comecei dia 09, e tá sendo muito bom. Conversei muito, e ela tá me ajudando com as minhas dificuldades. E eu voltei pra lhe dizer, que tá sendo bom, que eu tô gostando, e lhe agradecer.

Não espero méritos por desenvolver o mínimo do meu papel. Mas é muito satisfatório perceber que apesar de ter sido referenciada a um serviço da rede, especializado, ela voltou para sua unidade de saúde, que é seu primeiro vínculo. Mais do que à sua patologia, sua dor, suas dificuldades, essa comunitária me mostrou claramente, o seu vínculo com a sua unidade de saúde. E ouvi-la dizer que procurou saber que atividades que existem para poder também participar. Do coletivo para o individual, e do individual para o coletivo. Isso é Saúde!

E complementa: – Agora eu já tô cuidando de mim. Mas queria lhe pedir, que visse meu filho. Preciso cuidar dele também. Você me ajudou comigo. Pode me ajudar com meu filho também?

Isso é Saúde da Família! Um ser cuidado, cuida de outros, busca o cuidado de todos. São situações como essa, que motivam o profissional, não por ser o salvador da pátria. Isso não cabe a mim, nem me interessa. Eu quero atuar junto, ser a pessoa que acolhe, que oferece espaço para que as pessoas se percebam e comecem a ser seus próprios cuidadores. Isso é o que importa.

Podia ser só mais uma orientação/acolhimento, mas foi uma contra referência. A primeira.

E vocês? Como vocês vivenciam essas situações?