Até o silêncio gritava nos corredores do PA Sul

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Por Irenides Teixeira

Novo semestre, novas possibilidades…

Em 2007/2 não seria diferente. Cursava o meu último ano de Psicologia e o maior desafio era o Estágio em Psicologia e Processos Clínicos I que, no meu caso, seria realizado aos domingos das 8h às 20h, no Pronto Atendimento Sul (PA SUL), localizado no bairro Aureny I em Palmas – TO. O funcionamento do PA SUL é de 24 horas, dividido em duas equipes de trabalho, que prestam serviços no plantão diurno e no plantão noturno.

Foto: Marcelo Sampaio

Recordo-me que na noite de sábado, anterior ao meu primeiro dia no PA SUL, eu lia e relia com muita atenção os autores que iriam nortear a minha conduta no estágio. Agarrei-me a essas leituras, pensando serem elas suficientes para orientar minha prática naquela noite. Quanta ingenuidade! Percebi assim que sai de casa que, todo o conhecimento que pensava ter, não era decisivo para a o sucesso da minha atuação.

Cheguei tímida e apreensiva em um novo território. Fui bem recebida.  A enfermeira chefe me apresentou toda a equipe e a rotina de trabalho. Atenta, observei cada passo dos profissionais que ali trabalhavam. Naquela manhã, aprendi que, quando o paciente chega ao PA SUL, informa os dados necessários para que a atendente preencha a Guia de Atendimento de Emergência (GAE); depois, aguarda na sala de recepção a sua vez de ser atendido pela equipe de enfermeiras que realizam a triagem no setor de classificação de risco. Enquanto uma enfermeira verifica os sinais vitais, outra preenche a ficha e, após a triagem, o paciente aguarda em um corredor a sua vez de ser atendido.

Nos corredores…

Gestos, expressões de dor e angústia marcavam as faces das pessoas que ali esperavam. O silêncio gritava… Clamava por socorro. Os pacientes, impacientes, esperavam a sua vez de serem atendidos. Percebi que o sofrimento que permeava a passagem do paciente pelo PA Sul poderia ser minimizado pela intervenção psicológica. Era preciso fazer algo, valorizar a subjetividade de cada pessoa que lá estava. Impressionou-me muito a história de uma senhora de 73 anos. Ela me confessou – com sorriso quase infantil – que sempre dava um jeito de, ao menos no domingo, ficar “doente”. Para ela, ficar sozinha e sem ter o que comer no domingo pela manhã era muito triste. Seus filhos não faziam questão de ir visitá-la, por isso ela preferia passar a manhã por ali. Ela me pediu segredo, pois não queria que a equipe de atendimento percebesse a sua “peraltice”. Fiquei muito comovida ao perceber a solidão nos olhos daquela senhora. Fiquei ali com ela a ouvir suas histórias que, naquele momento, não importavam se fossem verdades ou não. Que relevância isso tinha? Ela só queria atenção.

O domingo parecia interminável…

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