As influências que propiciaram o modelo psiquiátrico brasileiro.

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      É sempre bom poder contribuir com a construção de modelos, vivências compartilhadas com discursos estabelecidos, escutas acuradas e a vontade de influenciar em uma sociedade que se denomina democrática e livre. Assim, é com enorme prazer que torno a postar nesta Rede maravilhosa. Como acadêmico do curso de Psicologia do 4° semestre, sob orientação do professor Douglas Casarotto gerenciados através da disciplina Introdução à Psicologia da Saúde venho ressaltar alguns aspectos dentro do universo estudado tendo como base conceitos e fatos que mais me chamaram a atenção.
      Gosto de trazer à tona a realidade em seu contexto complexo. Assim, qual é o papel do psicólogo diante do sistema de saúde implantado no Brasil? Pois bem, esta é uma questão muito ampla e merece uma minuciosa investigação. Sabemos que desde os primórdios da Psicologia muitas foram às formas em que se ocorriam as relações terapêuticas entre terapeuta e usuário/sujeito/paciente. Portanto, até os dias de hoje ainda se tem uma visão da psicologia muito enraizada no campo da clínica/consultório deixando-se de lado ideias de campos ampliados com novas perspectivas e visões holísticas. 
      No entanto, durante estudos realizados chamou-me a atenção para os vários modelos de psiquiatrias ocorridos em países de ponta a partir da década de 50 do século XX. No entanto, Amarante (2007) destaca que estes modelos estão calcados em cinco grandes perspectivas dentro de dois grupos mais um.
      Assim, Amarante (2007) ao descrever, destaca que a Comunidade Terapêutica e a Psicoterapia Institucional acreditavam que o fracasso dos princípios psiquiátricos estava na gestão do próprio hospital e que a solução seria introduzir mudanças na instituição (tanto uma como a outra surgiram em países diferentes, mas em período pós-guerras). A Psiquiatria de Setor e a Psiquiatria Preventiva acreditavam que o modelo hospitalar estava esgotado e que deveriam ser quebradas estas barreiras criando métodos com a construção de serviços assistenciais que em suma iriam qualificando o trabalho terapêutico. Na Psiquiatria Democrática todo o modelo científico psiquiátrico é questionado assim como também todas as suas instituições assistenciais. 
      O Brasil segue o modelo psiquiátrico italiano, ou seja, os princípios da Psiquiatria Democrática denominado por Franco Basaglia. Amarante apud Basaglia (2007) ressalta que para a doença ser combatida não poderia somente se precaver com medidas administrativas ou de humanização. Porém, deveria ser promovidas idéias de superação do aparato manicomial, entendido não apenas como estrutura física de hospício, mas como o conjunto de saberes e práticas, científicas, sociais, legislativas e jurídicas, que fundamenta a existência de um lugar de isolamento e segregação e patologização da experiência humana. Assim, houve o fechamento de hospitais e a criação de serviços substitutivos como centos de saúde mental (CSM), todos regionalizados, isto é, distribuídos criteriosamente pelas várias regiões da cidade. Não era como nos Estados Unidos, porém os CSM passavam a assumir a integralidade das questões relativas ao cuidado no campo da saúde mental de cada território. Assim, mais do que centros regionalizados, eram centros de base territorial. Outras estratégias diziam respeito às possibilidades reais de inclusão social tais como grupos musicais e de teatro, produtora de vídeos, oficinas de trabalho, dentre muitas outras. 
      No entanto, o que se vê é que Basaglia não defendia somente a desistitucionalização e fechamento de hospitais em estilo manicomiais, mas sim o suporte e a criação de uma rede que desse suporte durante e após internações e tratamento de doentes mentais. O Brasil, aproximadamente, quatro décadas após o modelo italiano estar estabelecido lança mão de uma lei, a qual é conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, intitulada como Lei n° 10.216, imposta no ano de 2001 que regulamenta toda a parte burocrática e delimita os direitos e deveres tanto do usuário como dos profissionais da saúde mental.
      Portanto, o que mais me deixa triste é analisar este contexto de mais de dez anos destes movimentos no Brasil. A falta de apoio aos serviços de saúde mental substitutos ao modelo manicomial fechado (CAPS, Ambulatório de Saúde Mental) por parte do governo federal é deficitária. Deficitária porque as gestões ainda estão calcadas no patriarcalismo da medicina e rejeitam o modelo dinâmico do acolhimento e de inserção do doente mental junto à sociedade. Os locais onde são realizadas as atividades com os usuários são insalubres e inadequados, muitas vezes casas antigas, em péssimas condições de conservação e de iluminação. Muitas não têm salas adequadas para trabalharem com grupos ou de forma individual. Isso tudo, reflete a descaso do governo em relação ao sistema de saúde mental no Brasil.  
      Entretanto, sei que o Brasil tem potencial para mudar esta situação, mas que para isso é necessário mudanças radicais na forma de gerenciar e de propor idéias. As idéias possuem potencial para a mudança no futuro. É preciso a cada dia mais e mais trabalhar de forma unida, ou seja, inter, multi e transdiciplinar para que as mudanças aos poucos possam ser significativas e que novas perspectivas possam ser perpetuadas em formas ressignificadas e de visões transformadoras e não engessadas.

Bibliografia:
AMARANTE, P. Saúde mental e atenção psicossocial. CAP. 3. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2007.