Criança (Des)Esperança: Ofereça sua doação e esqueça da CPMF para a Saúde

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Durante as ultimas semanas fomos bombardeados por uma publicidade que nos exortava a doar dinheiro para o "Criança Esperança". A justificativa era a excelência dos projetos, o resgate de inúmeras vidas arrancadas da miséria material e espiritual. Milhares de crianças foram salvas porque se alimentaram, aprenderam a dançar, cantar, fazer música, etc. Não entraremos no mérito desses projetos. Existem milhares de pessoas engajadas em projetos sociais importantes e que produzem mudanças qualitativas na vida das pessoas, isso é inegável.

Queriamos antes de tudo destacar um paradoxo. Coincidemente, nesta semana, quando um conjunto de forças políticas no congresso começam a se articular para a aprovação da emenda 29 e a consequente forma de destinação de recursos que obrigaria as poderes públicos ao cumprimento da sua obrigação constitucional de oferecer saúde para todos, vemos reportagens na mesma Rede Globo criticando a possibilidade de uma nova CPMF, com falas de economistas respaldando a tese de que o problema da saúde no Brasil não residiria na falta de recursos mas tão somente seria um problema técnico de gestão de recursos e de trabalhadores.

Obviamente as reportagens não buscaram ouvir o outro lado muito menos deu destaque aos sistemas de saúde com muito mais recursos financeiros que o Brasil e com mais abrangência e resolutividade. Falar em Cuba então, nem pensar, muito menos no Canada e na Inglaterra.

Neste domingo vimos muitas celebridades desfilando na TV. Colocaram sua popularidade a disposição para que a Rede Globo passasse o pires pedindo a milhões de brasileiros um dinheirinho para seus projetos sociais. Faltou alguém que cantasse sobre as históricas dívidas da Globo com relação ao INSS. Faltou também uma dupla sertanejada engajada  destacar as dívidas com o IPTU.

Enquanto o Willian Bonner nos exalta a dar telefonemas e ouvirmos a vinheta até o fim para validar a doação, a rede Globo mostra o "Criança Esperança" e vai  indefinidamente levando com a barriga o calote fiscal e ainda ajuda a fazer pressão política para que a emenda 29 não seja aprovada. Para "validar" a sua tese de que só o terceiro setor tem competência para gerir os projetos sociais, vale jogar milhões de crianças brasileiras na desesperança ao tentar sabotar as possibilidades de que o Estado tenha recursos materiais efetivos para construir o Sistema Único de Saúde; sob as bençãos indignadas de Alexandre Garcia e Mirian Leitão pelas manhãs denunciando a gastança do governo. Para cada real doado, a sabotagem de milhares de reais que poderiam ser destinados a tudo aquilo que faz saúde, coisas singelas como saneamento básico. ampliação da rede de Atenção Básica etc. Mas todos nós sabemos. Um SUS resolutivo não interessa a quem acha que tudo pode e deve ser reduzido a relações mercadológicas, inclusa a vida humana.