O Natal e o Sonho

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O natal traz muitas lembranças. Minha tia reunia todos em sua casa. Tinha o cuidado de marcar os lugares na mesa para que pessoas que tivessem sua dificuldades de  relacionamento não se sentassem lado a lado.  Era preciso que pelo menos naquele dia reinasse a harmonia.

E, lá pelas tantas, Papai Noel aparecia. Uma barriga enorme e risada solta, interrogava todo mundo sobre como havia sido o ano, se todos tinham sido obedientes, como estavam os estudos. Eu e meus primos mentíamos escandalosamente, afinal, era preciso garantir os presentes.

Mas naquele natal de 1968, algo diferente aconteceu. Com o alarido de sempre, Papai Noel chegou sendo recebido festivamente por crianças e adultos. O mesmo ritual repetiu-se mas o meu olhar…maldito olhar..fixou-se no pulso do Papai Noel. E lá estava um brilhante relógio “Orient”, enorme como regia os padrões da época, com ponteiros verdes e o fundo marrom.

Ao mesmo tempo em que desejava receber meu presente (torcendo para que fosse um brinquedo e não  malditas peças de roupa), ficava pensando no relógio.  Até que a verdade, quase sempre “horrenda” e destruidora de sonhos, desabou sobre mim.  Aquele relógio era do meu pai.  E ai, tudo se descortinou na minha frente. Confirmei as coisas que já sabia mas negava: a s roupas eram falsas, a barba também, a barriga postiça. Papai Noel não existia!

Foi um natal especialmente triste. Tinha a sensação de ter recebido um presente, mas de ter perdido um valioso sonho. O tempo passou, os papéis se inverteram. Hoje faço vez em quando um Papel Noel brincalhão que ora tenta enganar olhares desconfiados de sobrinhos pequenos, ora vai para um orfanato tentando arrancar sorrisos.  A barriga não é postiça e a pele vermelha é sem maquiagem.

O sonho que pensava morto ainda pulsa, pois o Papai Noel existe, não é um mito ou um símbolo engendrado pelo  mostro do consumismo desenfreado. Não! Ele caminha feliz quando se disfarça nas nossas utopias, na busca por sociedades mais solidárias estruturadas por seres mais humanos. O natal ainda expressa isso, um atrevimento de colocar em prática determinados valores que se tornam mais rarefeitos com o passar do ano.

Queremos fazer isso porque acreditamos na história de um deus que se fez carne na forma de uma criança e/ou pela singela constatação de que vale a pena praticar o que chamamos de “bem” porque isso se reflete em nós, porque é bom fazer aos outros  o que queremos que façam com a gente.

Que a doce utopia do Natal  nos inspire na bela tarefa de sermos humanos, irmanados pela dor, mas também juntos na busca do que se costuma chamar FELICIDADE!

FELIZ NATAL!