Vamos fazer um Rolezinho?

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As multidões sempre são bem vindas aos shoppings…desde que controladas pelas datas regidas pelo consumo. A chegada do Papai Noel acontece com mais de 50.000 pessoas expostas a insegurança pública. Acabam se vendo  como gnus acossados por leões como nos documentários sobre vida selvagem, mas tudo bem, estão ali para receberem o bom velhinho descendo do helicóptero para oficializar que o natal chegou.

O que na verdade torna-se um problema é quando essa gente "amorenada" resolve passear em territórios além dos muros invisíveis do "apartheid social" que ainda impera no Brasil. Nesse momento, as elites não podem se acercar de seguranças que protegem seus filhos descriminados com "abadás", como ocorre no carnavais fora de época onde as ruas são "domadas" por leões de chácara e policiais de folga.

A partir do acatamento de mandatos de segurança proibindo os rolezinhos, coloca-se todos os jovens dos "guetos" como "bárbaros", sem exceção. Fica assim demonstrado que a "liberdade de ir e vir" é uma peça ficcional que só vale para algumas regiões das cidades!

Ao buscar proibir os "rolezinhos" os donos dos shoppings não imaginam a encrenca em que estão se metendo. Em primeiro lugar, mostram absoluta falta de inteligência ao pré rotular uma manifestação cultural sem de fato saber o que ela é.

Em segundo lugar, passam uma péssima imagem pública que depõe contra as campanhas de "responsabilidade social" onde investem milhões e ainda correm o risco de ser engolfados em propagandas que os rotulam como racistas e preconceituosos.

Por fim, deveriam ler manuais básicos de psicologia da adolescência. Da noite para o dia estão oferecendo uma causa libertária para que milhões de jovens tenham um motivo cristalino para defenderem regras e princípios que eles não vêem sendo cumpridos pelos seus opressores. É  dessa forma que indivíduos e grupos costumam forjar, geração a pós geração, suas identidades individuais e coletivas.

De resto, não é preciso ser gênio ou profeta para prever que em breve ocorrerá uma  epidemia de violência insuflada antes de mais nada pela percepção da injustiça da proibição. Você que é jovem e mora em bairros abastados pode continuar marcando seus encontros via facebook para irem a lanchonete  do shopping fantasiados de algum personagem da tribo de heróis e vilões de algum animê e consumir o Big Mac nosso de cada dia. Isso não é rolezinho, pode ficar tranquilo.

Mas se você morar em lugares mais afastados e/ou abandonados pelas políticas públicas, tome cuidado. Você poderá ser visto como um terrível marginal e seus amigos como companheiros de quadrilha. Hoje o Rio de Janeiro nos deu uma aula. O rolezinho continua proibido no Leblon mas não em Niterói. Como se vê, a lei é igual para todos só que alguns são mais iguais que os outros como nos ensinou o velho George Orwell.

Um dia li num texto qualquer (não me lembro a fonte)  uma descrição quase em prosa poética sobre os shoppings serem novos espaços públicos. Bom, talvez em alguma friorenta cidade na Suécia isso possa ter um esboço de verdade. Aqui no Brasil shopping é espaço para o público consumir. Fora desse papel, esse público pode adquirir as rudes feições de uma fera irracional que se move ao som de músicas tribais.

Durante o período colonial o remédio contra isso foi o fogo assassino das metralhadoras. Hoje o Estado está envernizado de civilização e usa o poder de liminares e mandatos para disciplinar essa plebe sempre mal comportada. Esperemos que antigos remédios não sejam utilizados e que alguém use civilizadamente seu poder muito mais para compreender e incluir e não para afoitamente proibir