RESUMO TEXTO – PAIDÉIA E GESTÃO

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O termo Paidéia é de origem grega, dentro do período clássico designava um dos componentes considerados essenciais da democracia ateniense. Havia o conceito de cidadania que assegurava direitos àqueles considerados como sendo pessoas; o de Ágora, que indicava um espaço e um modo para o exercício do poder compartilhado entre governantes e cidadãos; e existia ainda o conceito de Paidéia, que significava a necessidade de educação integral das pessoas, criando-se com essa finalidade um processo continuo de ampliação da capacidade de participar da vida social, inclusive ocupando um lugar na Ágora.

Neste caso, se realiza una adaptação do conceito original, conservando-se, no entanto, seu sentido principal. Nessa metodologia de trabalho com grupos e equipes se considera o Efeito Paidéia como um processo social e subjetivo em que as pessoas ampliam sua capacidade de buscar informações, de interpretar-las,
buscando compreender-se a si mesmas, aos outros e ao contexto, aumentando, em conseqüência, a possibilidade de agir sobre estas relações.
Compreender-se implica analisar a dinâmica do desejo e do interesse próprio; enxergando, ao mesmo tempo, o desejo e interesse dos outros, tudo isto inserido em uma dinâmica histórica e social: a materialidade das necessidades e das instituições. Ora, isto é nada mais do que uma descrição sofisticada do simples exercício da vida humana; ou seja, viver é realizar estas operações, de forma mais ou menos consciente.

Estamos sempre imersos nesta dinâmica, estamos sempre aprendendo com a vida.

O método Paidéia é um reconhecimento deste fato, mas é também uma tentativa de sistematizar modos de intervir de forma deliberada nesta dinâmica. Pensar e agir de maneira deliberada é atuar segundo finalidades, buscando algum sentido para a vida. O efeito Paidéia ocorre sem que tomemos conhecimento disto, aprendemos vivendo. No entanto, se pode buscar este efeito segundo valores e intenções prévias. Reconhecendo que o controle sobre este processo será sempre parcial, já que há inúmeros fatores produzindo efeitos sobre pessoas e instituições.

A humanidade já “inventou” vários métodos para interferir neste processo: a política, a gestão , a regulação e o controle social, a pedagogia, a clínica, são alguns exemplos.

O Efeito Paidéia sobre as pessoas é resultado de afetos, de conhecimento e do poder. A política enfatiza modos de operar com o poder; a pedagogia, com o conhecimento; as terapias da subjetividade, com o afeto. Estes campos disciplinares, contudo, separam estas três dimensões; quando na realidade elas atuam de forma conjugada, simultânea. A constituição de sujeitos, das necessidades sociais e das instituições é um produto de relações de poder, do uso de conhecimentos e de modos de circulação de afetos.

O Método Paidéia é uma tentativa de pensar e de agir considerando estas três dimensões. E mais, ele acrescenta uma finalidade adicional a todo agrupamento humano: o do desenvolvimento dos seus integrantes segundo estas três perspectivas; ou seja, é um esforço para construir uma nova capacidade de pensar e de agir seja de coletivos ou de cada uma das pessoas envolvidas. A novidade estaria por conta de integrar-se estas
três dimensões: a liberdade, ou a cidadania, ou saúde, tudo depende da capacidade de lidar com afetos, saberes e com o poder.

Em toda instituição ocorre, na prática, múltiplas sínteses dos efeitos destes três fatores; no entanto, a racionalidade gerencial hegemônica pensa a gestão de organizações como uma continuidade do poder político, e como um espaço em que os padrões de conhecimento e de circulação de afetos considerados adequados estariam fixos. Os gestores tentam articulá-los para aumentar o controle sobre os sujeitos. Na realidade, construiu-se o imaginário de que a gestão não interferiria com estas dimensões, ela apenas administraria o já dado à priori: a gerência seria um desdobramento “natural” do poder constituído, delegado ou pela propriedade privada ou pelo Estado; o conhecimento seria levado de fora às organizações, cursos de formação regular ou outras formas de capacitação; e quanto ao afeto caberia aos sujeitos “adaptaram-se” à lógica de cada organização, acomodando-se às relações de poder e protegendo-se da concorrência, dos conflitos, etc.

O Método Paidéia imagina contaminar a política, a gestão, a pedagogia, a clínica e a saúde pública com a lógica desta tríplice determinação: em todas estas maneiras de agir sobre o mundo estão misturados poder, saber e afetos. Ainda que o estejam de modos distintos, ora uma dimensão predominando sobre a outra. Em geral, pode-se afirmar que o político tem como núcleo específico o tema do poder, em seu campo é que circulam saberes e afetos; a pedagogia tem como núcleo o cognitivo, e no campo, poder e afetos; as terapias da subjetividade, no núcleo os afetos e no campo, poder e o cognitivo.
É interessante notar que em várias práticas sociais, aquelas constituídas a partir de uma pretensão exagerada de objetividade, sequer se admite que haveria influência de fatores políticos, cognitivos ou afetivos. A Saúde Pública e a clínica médica, por exemplo, operam como se houvesse uma diluição da influência destes fatores; o saber dos técnicos atuaria melhor desde que “livre” da política, e de conhecimento ou de afetos “inconvenientes” de pacientes ou da comunidade. Este é o núcleo do pensamento tecnocrático: a tentativa de reduzir pessoas à condição de objeto, rejeitando-se com isto a circulação de afetos e a “contaminação” das práticas pelo poder ou pelo saber dos “leigos”, todos atingidos pelas medidas geradas em apenas um dos pólos da relação de poder.

APOIO PAIDÉIA:

O que é a função de apoiador Paidéia?

É a tentativa de ampliar a capacidade das pessoas lidarem com poder, com circulação de afetos e com o saber, ao mesmo tempo que estão fazendo coisas, trabalhando, cumprindo tarefas. No fundo, é a radicalização da construção de cidadania e de sociedades democráticas.

Não é um lugar estrutural específico, em qualquer papel dentro de um coletivo se pode atuar segundo a perspectiva Paidéia. Ainda que o papel de cada um na estrutura de poder, bem como o domínio de teorias e de métodos e as relações de afeto influenciem fortemente na capacidade de apoio; ou seja, há variações obrigatórias no modo de proceder conforme o lugar institucional do suposto apoiador.

O Conceito Apoio pretende capturar todo este significado: não se trataria de comandar objetos sem experiência ou sem interesses, mas sim de articular os objetivos institucionais aos saberes e interesses dos trabalhadores e usuários. Tampouco se aposta somente nos recursos internos de cada equipe. O termo Apoio indica uma pressão de fora, implica trazer algo externo ao grupo que opera os processos de trabalho ou que recebem bens ou serviços. Quem é apoio sustenta e, ao mesmo tempo, empurra o outro. Sendo, em conseqüência, sustentado e empurrado por sua vez pela equipe “objeto” da intervenção. Tudo junto e ao mesmo tempo.