O Tamanho da Saia e o Filme “Acusados”: Quando a Vida Parece Imitar a Arte!

15 votos

Foi notícia nos ùltimos dias. A jovem Geysi Arruda teve que sair escoltada por policiais de sua universidade, onde estuda turismo, por ser ameaçada por dezenas estudantes. O motivo? O fato de estar usando uma roupa sexualmente provocante.

 

Não cabe aqui um julgamento estético da roupa de Geysi, muito menos se ela era mesmo provocante ou não. Trata-se de colocar em evidência o comportamento dos estudantes que perpetraram uma forma de linchamento psicológico de Geysi. Como se não bastasse, a Universidade parece ter "resolvido" o problema ao expulsar a jovem de seu quadro discente. Institucionalmente expurgaram a diferença perdendo uma excelente oportunidade de se colocar em questão o cerne da problemática, qual seja, as relações de gênero  e o quanto a mulher é ainda vitimizada, entre outras coisas, por determinadas formas de expressão de sua própria condição feminina.

 

Lembrei-me imediatamente do filme "Acusados" (1988) que notabilizou Jodie Foster. Neste filme a atriz interpreta uma mulher que, estando num bar e sob efeito de alcool, está na companhia de alguns homens com os quais dança e troca beijos. Mas, de um momento para o outro, as coisas mudam de rumo. Ela é ESTUPRADA por todos. Ora, o que caracteriza o estupro é  aguém   ser forçado a manter relações sexuais. E ai reside todo o drama do filme. Ela NÃO QUERIA fazer sexo com estes homens mas foi FORÇADA a isso.

 

Durante o primeiro julgamento, eles são inocentados com a argumentação de que a vítima, diante de suas atitudes, havia consentido ao que ocorreu. A partir dai, o filme é a saga da personagem em busca de justiça mostrando que, em situações como estas, na verdade não são os réus que estão em julgamento mas sim a vítima.

 

O veredito foi mais um vez dado, só que agora não mais numa tela de cinema e sim em São Paulo. A jovem Geysi é responsável pela conduta inadequada de seus colegas. Foi ela que afrontou os jovens com seu corpo e seu vestido provocante. Foi ela que colocou em xeque a instituição manchando sua ilibada reputação de produtora de conhecimento. Ora, se a roupa e o corpo da mulher perturbam tanto, então vamos expulsa-la. Fácil imaginar que se a polícia não tivesse escoltado Geysi para longe dos seus agressores ela também seria culpabilizada por qualquer outra coisa que acontecesse.

 

Que o final dessa história possa ser feliz. Que possamos colocar em análise a questão feminina. Não conseguiremos avançar nos objetivos de humanizar a saúde e o SUS se a questão da mulher não for também amplamente debatida. Todos sabemos das piadinhas que muitas profissionais de saúde são vítimas e objeto por serem mulheres.  Os fantasmas que produzem a desafetivação e a coisificação das pessoas nascem de situações como as vivenciadas por Geysi. E elas também estão presentes no cotidiano dos serviços de saúde!