Clínica Psicodinâmica do Trabalho com a Unidade de Operações Aéreas do Detran

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Por Solene Nobre de Medeiros

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A psicodinâmica do trabalho considera o trabalho como eixo central de estruturação do sujeito e prioriza, em sua análise, a organização do trabalho para compreender como são produzidos os processos de subjetivação e de saúde, assim como as patologias. Essa teoria vem se destacando como referencial de estudo sobre a saúde mental no trabalho.

Os estudiosos dessa abordagem procuram compreender e dar visibilidade a aspectos subjetivos que constituem a ação de trabalhar como a cooperação, o reconhecimento, as estratégias de defesas, as relações de prazer e sofrimento, a mobilização subjetiva, entre outros. Para isso, propõem a criação de um espaço de discussão onde os trabalhadores possam expressar, diante de seu coletivo de trabalho, a visão que têm a respeito do trabalho.

O efeito da subjetivação sobre o trabalho irá depender da mobilização e do engajamento do sujeito no trabalho. O favorecimento da subjetividade leva à vivência de prazer, mas quando ela é desconsiderada e bloqueada, favorece as vivências de sofrimento.

Prazer e sofrimento são vivências subjetivas e apontam a experiência do sujeito em função do fracasso ou do sucesso de seus esforços para resolver os conflitos que surgem no ambiente de trabalho. Para Dejours (2004a), uma forma de se captar o sofrimento é por meio das defesas, uma vez que ele não é diretamente acessível. Diante dele, os trabalhadores se mobilizam para transformá-lo e obter prazer, mas quando isso não é possível, surgem asestratégias de defesa individuais e coletivas para mascarar a percepção de risco e perigos a que estão expostos, assim como o sofrimento gerado pelas condições de trabalho.

Como exemplo da atuação da psicodinâmica do trabalho, Dejours (1992) investigou os pilotos de caça e percebeu que, apesar do medo relativo ao risco que supõe uma tarefa, o trabalho pode ser fonte de satisfação e de equilíbrio psíquico. Mas se o trabalho não tem sentido, a possibilidade de uma doença mental ou somática torna-se muito elevada.  Para o autor, o trabalho de pilotagem engaja o corpo, a inteligência, as intuições e o ser humano no que ele tem de mais íntimo.

Essa profissão, segundo Dejours, Abdoucheli e Jayet (1994), deve ser escolhida pelo piloto que tenha motivação para exercer essa atividade, caso contrário, o piloto se arrisca efetivamente a se matar. Para Dejours (1992), poucas profissões conseguem integrar a teoria e a prática, assim como poucas situações exigem tantas habilidades de um só sujeito simultaneamente.  O autor destaca que, na aviação, a valorização do corpo e do emocional pela situação de trabalho é exemplar da síntese trabalho intelectual-trabalho manual.

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A psicodinâmica do trabalho considera o trabalho como eixo central de estruturação do sujeito e prioriza, em sua análise, a organização do trabalho para compreender como são produzidos os processos de subjetivação e de saúde, assim como as patologias. Essa teoria vem se destacando como referencial de estudo sobre a saúde mental no trabalho.

Os estudiosos dessa abordagem procuram compreender e dar visibilidade a aspectos subjetivos que constituem a ação de trabalhar como a cooperação, o reconhecimento, as estratégias de defesas, as relações de prazer e sofrimento, a mobilização subjetiva, entre outros. Para isso, propõem a criação de um espaço de discussão onde os trabalhadores possam expressar, diante de seu coletivo de trabalho, a visão que têm a respeito do trabalho.

O efeito da subjetivação sobre o trabalho irá depender da mobilização e do engajamento do sujeito no trabalho. O favorecimento da subjetividade leva à vivência de prazer, mas quando ela é desconsiderada e bloqueada, favorece as vivências de sofrimento.

Prazer e sofrimento são vivências subjetivas e apontam a experiência do sujeito em função do fracasso ou do sucesso de seus esforços para resolver os conflitos que surgem no ambiente de trabalho. Para Dejours (2004a), uma forma de se captar o sofrimento é por meio das defesas, uma vez que ele não é diretamente acessível. Diante dele, os trabalhadores se mobilizam para transformá-lo e obter prazer, mas quando isso não é possível, surgem asestratégias de defesa individuais e coletivas para mascarar a percepção de risco e perigos a que estão expostos, assim como o sofrimento gerado pelas condições de trabalho.

Como exemplo da atuação da psicodinâmica do trabalho, Dejours (1992) investigou os pilotos de caça e percebeu que, apesar do medo relativo ao risco que supõe uma tarefa, o trabalho pode ser fonte de satisfação e de equilíbrio psíquico. Mas se o trabalho não tem sentido, a possibilidade de uma doença mental ou somática torna-se muito elevada.  Para o autor, o trabalho de pilotagem engaja o corpo, a inteligência, as intuições e o ser humano no que ele tem de mais íntimo.

Essa profissão, segundo Dejours, Abdoucheli e Jayet (1994), deve ser escolhida pelo piloto que tenha motivação para exercer essa atividade, caso contrário, o piloto se arrisca efetivamente a se matar. Para Dejours (1992), poucas profissões conseguem integrar a teoria e a prática, assim como poucas situações exigem tantas habilidades de um só sujeito simultaneamente.  O autor destaca que, na aviação, a valorização do corpo e do emocional pela situação de trabalho é exemplar da síntese trabalho intelectual-trabalho manual.

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Considerações

Com a clínica, foi possível conhecer a organização do trabalho, o conteúdo das tarefas, as jornadas de trabalho, o processo de formação desses profissionais, os modos de gestão e descrever as relações socioprofissionais entre outras características do serviço de monitoramento aéreo de trânsito.

Diante das adversidades do trabalho, o grupo se mobiliza para encontrar soluções. É um trabalho, que apesar da prescrição, o profissional contribui com sua experiência, sua inteligência e seu jeito de trabalhar. Estão sempre corrigindo falhas para evitar a possibilidade de ocorrer um acidente.

A mobilização subjetiva ocorre porque todos cooperam fazendo a sua parte para o sucesso da missão. A cooperação é importante para o funcionamento coletivo e para a construção das regras de trabalho. Estabelece-se pela confiança que se tem no compromisso de cada um com o trabalho, pois o bom desempenho garante que todos trabalhem com segurança.

Essa clínica mostrou que o trabalho na aviação representa a concretização da realização do desejo de voar gerado na infância. É uma profissão dinâmica, gratificante, prestigiada e valorizada. O voo gera prazer porque é o momento em que o piloto vê o resultado dos seus esforços pelo tempo investido em formação e em treinamento. No entanto, a avaliação das condições física e mental é rigorosa. O piloto não pode relaxar em relação à saúde. Seu corpo é testado constantemente em relação à qualidade de funcionamento orgânico comprovada por exames médicos. Mas a preocupação com a saúde se justifica pela segurança de voo e quem não tem condições de voar é eliminado da tripulação.

Esse estudo contribuiu para dar visibilidade ao trabalho exercido pela UOPA e, por meio dessa visibilidade, tornar o trabalho conhecido pelos pares e pelas pessoas que não fazem parte do contexto aeronáutico. A possibilidade de se mostrar o trabalho não visível gera a chance de se obter reconhecimento ao se submeter ao julgamento do outro. Segundo Dejours (2004b), o trabalho precisa ser visível para haver reconhecimento.

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