O Matriciamento como contribuição de um trabalho cooperativo na Rede de Saúde Mental.

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  O Matriciamento como contribuição de um trabalho cooperativo na Rede de Saúde Mental.

Por:  Gelva Froes e Fernanda Pazetto

Para a população com transtorno mental, há uma mesma necessidade de atendimento em urgência e emergência. Todavia nem todos os profissionais tem o devido preparo para este tipo de atendimento especializado. Por este motivo, o município de Campinas já há dez anos agregam psiquiatras às equipes do SAMU, de modo que este profissional trouxesse uma maior qualificação ao serviço de emergência para a população. A psiquiatra Sara Maria Teixeira Sgobin, afirma que, antes da implementação do profissional psiquiatra na equipe do SAMU, quando havia uma crise para ser atendida, uma ambulância vazia, com uma grade era enviado para o atendimento ao paciente, algo muito desumano. Ela ainda diz que um próximo passo da Reforma Psiquiátrica, seja a formação de médicos generalistas na urgência e emergência em Psiquiatria.
Até que haja uma mudança no sistema, o matriciamento das equipes, com discussões de casos entre os profissionais e compartilhamento de experiência é a aposta da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. Tendo em vista do medo de sofrerem agressões e/ou pelo próprio preconceito com os pacientes com transtorno mental, o matriciamento é uma tecnologia que transmite o conhecimento e a técnica fazendo junto. O apoio matricial está disseminada em vários pontos da rede de saúde. O matriciamento é uma ferramenta de mão dupla: assim como ele qualifica os centros de saúde em que existe intervenção de casos relacionados a saúde mental, permite uma qualificação dos profissionais dos Caps por profissionais de atenção básica, no acompanhamento a usuários que possuem atenção nos cuidados com diabetes, hipertensão por exemplo, explica a coordenadora do Caps III Davi Capistrato, Marina Fernandes Santos. Sendo este Caps referencia para cinco centros de saúde e seus trabalhadores. Os Caps ad realizam matriciamento apenas em 12 serviços, devido a sobrecarga da demanda. Um investimento nos Caps ad III é de grande necessidade, pois diminuiria em 50% as necessidades de internação hospitalar, tendo em vista que estes equipamentos ampliam o horário de acolhimento e as ofertas terapêuticas, que assim facilitarão o acesso ao tratamento por grande parte dos usuários, também afirma Sgobin.
A cidade de Campinas possui dois milhões de habitantes, e segundo o Ministério da Saúde, a recomendação é que se tenha um Caps i para cada 200 mil habitantes, porém no município há apenas dois Caps i. É no matriciamento que está o drible desse déficit de atendimento, o que contribui para cobrir 40% dos centros de saúde do município. Segundo a psiquiatra Ana Luisa Marques Tratale, que trabalha no Caps i de Vivência Infantil, diz que ocorre um aprendizado mútuo, isso independente do local no qual é feito o trabalho, se saem profissionais do Caps ou se recebem alguém para discutir casos.
Em Campinas um meio de discussão sobre Saúde Mental estão nos Fóruns, com participação de todos os serviços e áreas que compõem a rede de saúde, bem como as redes intersetoriais, para troca de saberes e compartilhamento de casos. Mensalmente realizam-se supervisões de eixo com representantes dos Caps III, Centros de Saúde e urgência nos distritos e discutem casos com supervisores da Rede de Saúde. Segundo Sgobin, “isso fortalece muito a nossa rede, pois dá pra entender os fluxos da rede, com aproximação dos diferentes setores. Os fóruns possibilitam o conhecimento da rede, são o que sustenta a rede.”
Existem ainda outros grupos, um em especial a destacar, é o Fórum Gera Renda. Esse existe desde 2005, e tem a participação de profissionais da área da saúde e usuários participantes da geração de renda. A ideia inicial era de promover uma articulação entre os profissionais com a geração de renda na área da Saúde. Na atualidade são mais de 300 pessoas que integram as oficinas realizadas em Unidades Básicas, nos Centros de Convivência, Caps e em dois serviços específicos: Núcleo de Oficina de Trabalho e a Casa das Oficinas. Os produtos feitos são comercializados e o lucro é dividido entre os participantes ou parte dele vai para a reserva do grupo. Espera-se que os recursos adquiridos por eles com a comercialização dos produtos não seja apenas um complemento de renda, mas que seja algo significativo aos usuários. Ocorre de pessoas entrarem nas oficinas e após um tempo adquirem um ofício, passam a possuir novos interesses, buscam outros cursos indo posteriormente para o mercado formal de trabalho. Nem todos conseguem este avanço, mas aqueles que continuam só nas oficinas, as mesmas se tornam algo que traz algum sentido para os usuários, o que é respeitado por isso.
Há um diferencial que sustenta a rede de saúde, e é composto por 5 pronto atendimento e 3 pronto-socorro, 6 Caps III, 1 Caps III ad, 2 Caps II ad, 2 Caps Infantil, 32 residências terapêuticas, 1 Projeto de Inclusão Social para o Trabalho, 12 Centros de Convivência, 1 Consultório na Rua, 1 Escola de Redução de Danos, 20 leitos em hospital geral e 63 centros de saúde nos quais se distribuem 108 profissionais de saúde mental (entre psicólogos, terapeutas ocupacionais e psiquiatras).
Acreditamos que enquanto houver a disposição, atenção e dedicação cooperativa de uma equipe multidisciplinar na atuação da saúde mental (e na rede de saúde básica), a apropriação do conhecimento específico dos profissionais no atendimento ao usuário com transtorno mental, será muito maior, diminuindo a desatenção, medo, preconceito com o mesmo. Além de aumentar a qualidade no atendimento e tornar mais acessível a todos os usuários da rede de saúde mental.