7ª conferência estadual de saúde de São Paulo: reflexões sobre a etapa regional da baixada santista.

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Nos dias 29 e 30 Junho, foi realizado na cidade de Santos a etapa regional da 7ª conferência estadual de saúde de São Paulo que tem como tema: "Saúde pública de qualidade para cuidar bem das pessoas”.

O primeiro dia foi marcado por discussões dos sete eixos temáticos da 7ª CES-SP: direito à saúde, garantia de acesso e atenção de qualidade; participação social; valorização do trabalho e da educação em saúde; financiamento do SUS e relação público-privado; gestão do SUS e modelos de atenção à saúde; informação, educação e política de comunicação do SUS; ciência, tecnologia e inovação no SUS; e reformas democráticas e populares do estado.

Gestores, trabalhadores, usuários e convidados, foram os segmentos que compuseram de forma heterogênea os grupos temáticos de trabalho. O "dispositivo" grupo colocou em funcionamento fluxos de forças de conexão que transformam territórios existenciais e dão passagem para a multiplicidade de subjetividades em interação (Barros, 1996). A riqueza daquele espaço com sujeitos de diversas cidades, que falam de diferentes segmentos, e singularidades de pensamentos, se unindo para construir democraticamente e coletivamente propostas a serem encaminhadas, é algo de grande importância.

A própria organização do evento, também possibilitou que a rede viva de vínculos pudesse ser tecida entre os presentes. O trabalho foi realizado no período da manhã e a tarde, assim o almoço foi oferecido para os presentes, no mesmo restaurante em igualdade de condições para todos sem distinção. Há diversos eventos que giram debates sobre o Sistema Único de Saúde, propostos pelas próprias políticas do SUS, em que percebemos a desigualdade sendo criada nos espaços do evento, por exemplo com a grande disparidade entre os preços dos restaurantes, o que nos parece contraditório.

Comer é realizado pelo indivíduo em seu interesse mais pessoal; comer acompanhado, porém, coloca necessariamente o indivíduo diante do grupo, usando-se o ato de comer como veículo para relacionamentos sociais: a satisfação da mais individual das necessidades torna-se um meio de criar uma comunidade. Neste mesmo raciocínio, a origem da palavra companhia deriva da palavra latina companion significa: "uma pessoa com quem partilhamos o pão". Partir o pão e partilhá-lo com amigos significa a própria amizade, e também confiança, prazer e gratidão pela partilha (Moreira, 2010).

No segundo dia, houve a eleição de delegados (por segmento) e votação das propostas, a serem encaminhados para a conferência estadual de saúde, a ser realizada em Águas de Lindoia. Para a etapa estadual os delegados da regional baixada santista, levarão as 20 propostas mais votadas pelo pleno, como: contra a terceirização da gestão e controle social amplo, fortalecimento das políticas de educação permanente em saúde, formação em saúde contextualizada com as necessidades sociais em saúde das pessoas, integração do ensino com a universidade (muitas vezes, a universidade está muito longe da realidade dos serviços de saúde), criação de plano de carreira com oportunidade de promoção para trabalhadores do SUS e ações intersetoriais com os diversos setores da sociedade em busca do público na saúde pública, visto que o SUS não se constrói só com a saúde, mas com a educação, transporte, moradia, lazer, turismo, cidadania, direitos humanos, etc.

Dois estudantes que participam da construção do VER-SUS/São Paulo estiverem presentes e acompanharam as discussões do eixo temático “valorização do trabalho e da educação em saúde”. Merece destaque a importância da formação de profissionais para trabalhar na rede do sistema único de saúde, com compreensão da complexidade da produção de saúde, dos territórios e da constante luta pelo direito a saúde enfatizada por profissionais, gestores, usuários, movimentos sociais e quem mais quiser se ver nisso.

Por fim, a etapa regional baixada santista construiu imperativos de resistência para permanecer o SUS como um projeto ético-estético-político (Guattari, 1992), dimensão ética na implicação dos atores nos processos reflexivos e propositivos; dimensão estética no que tange a extensão da criação e composições para itinerários formativos e dimensão política na co-responsabilização dos resultados produzidos.

Referências 

BARROS, R. B. "Clínica Grupal". Revista Psicologia da UFF, n 77, 1996.

GUATTARI, F. Caosmose. Um Novo Paradigma Estético. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.

MOREIRA, S.A. Alimentação e comensalidade: aspectos históricos e antropológicos. Rev Soc Bras Progresso Ciênc 2010; 62(4):23-6.

Reflexões compartilhadas com muito açaí (após o término dos dias de conferência): Beatriz Vasconcellos e Allan Gomes, estudantes de terapia ocupacional/UNIFESP e saúde pública/USP e VER-SUS/SP