MICROCEFALIA, DEFICIÊNCIA, REABILITAÇÃO, DEPENDÊNCIA E CUIDADOR DOMICILIAR: Preocupações com efeitos tardios da epidemia Zika vírus.

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A microcefalia é um sinal clínico encontrado em vários distúrbios com etiologia ambiental e/ou genética, caracteriza-se pela deficiência do crescimento do cérebro, tanto pela dimensão da caixa craniana, como pelo pequeno desenvolvimento do cérebro em si. Na conjuntura do surto epidêmico atual, no Brasil, o que nos preocupa é o substantivo aumento da microcefalia transmitida pelo vírus Zika, através da picada do mosquito Aedes aegypti, em gestantes. Uma doença em que a cabeça e o cérebro das crianças são menores que o normal para a sua idade, o que prejudica o seu desenvolvimento mental, porque os ossos da cabeça, que ao nascimento estão separados, se unem muito cedo, impedindo que o cérebro cresça e desenvolva suas capacidades normalmente.

De acordo com o infectologista Marcos Boulo, Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a primeira grande epidemia de zika está acontecendo agora no país. Para ele, a eliminação maciça do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika, deve ser instituída e promovida como medida urgente de saúde pública, especialmente pela associação dessa última com os casos de microcefalia, que já passam de 4.000 notificações suspeitas em todo o país.

Sabe-se que a microcefalia traz consequências como atraso mental, déficit intelectual, paralisia, convulsões, epilepsia, autismo, rigidez muscular, nas crianças, causando dependência de longo prazo para cuidados básicos, que se estenderão pela vida toda. Atenção e cuidados que irão requerer dedicação exclusiva de algum membro familiar, geralmente assumido pelas mães, tendo sempre alguém na retaguarda para qualquer eventualidade.

Nossa preocupação como gestores públicos da área de reabilitação, atuantes nos Centros Especializados de Reabilitação, remete a constatação da atual falta de estrutura para atender tamanha demanda, considerando que a epidemia de zika aumenta com o passar do tempo, sem que medias efetivas de combate ao mosquito tenham sido tomadas. As crianças que agora nascem com microcefalia serão, inevitavelmente, usuárias de programas de reabilitação por certo período, até receber alta para cuidados de longo prazo nos pontos de atenção da Rede de Cuidados da Pessoa com Deficiência.

Avaliações periódicas realizadas pelas equipes de reabilitação e consequente encaminhamento para protetização serão indispensáveis, tendo em vista a promoção do bem-estar, alinhamento postural e acomodação adequada nas órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção. Exames periódicos de diagnóstico, tratamento, reabilitação e protetização de crianças, adolescentes e adultos com microcefalia e deficiências sensoriais, da mesma forma fundamentais, pois promovem a saúde dessas pessoas, caso apresentem cegueira, surdez, autismo.

Apresentando atraso mental e déficit intelectual, pessoas com microcefalia vão requerer suporte de apoio educacional nas escolas inclusivas, além de potenciais usuárias das suas salas de recursos multifuncionais. Consequências da microcefalia como paralisia, convulsões e epilepsia, requerem ministração de doses precisas de medicamentos regulares, tarefas desempenhadas em casa pelos seus cuidadores principais, devidamente orientados pelos membros das equipes Estratégias Saúde da Família (ESF), notadamente por enfermeiros.

Professores e demais profissionais da área de educação não são preparados para ministrar medicamentos e, via de regra, não se aventuram por questões relativas à legislação do exercício profissional. Para tanto, caso necessária alguma ministração de medicamentos diante de crises epiléticas, convulsões, etc., adequado que a escola mantenha contato direto com responsável pela Unidade Básica de Saúde (UBS) da área de abrangência, acionando sua interseção nessas ocasiões.

O mesmo deverá ser aplicado em situações que envolvam menarca, manifestação da sexualidade, entre outros eventos/aspectos da vida dos adolescentes, os quais devem ser conduzidos de forma madura, natural, por profissionais de saúde e educação, para que não causem traumas, constrangimentos, bullying e exposições diversas. Suporte das equipes do ESF sempre ajudarão, em especial, quando a ocasião requerer procedimentos de cuidados invasivos da privacidade e intimidade dessas pessoas.

Essas são algumas observações inquietantes que devem compor objetos de estudos acadêmicos e temas relevantes para inclusão nas pautas de planejamentos das políticas públicas de saúde e reabilitação nas três esferas de governo. Questões contemporâneas que precisam ser enfrentadas com seriedade, pela complexidade das consequências delas decorrentes.

Wiliam Machado