CLÍNICA AMPLIADA , SUA IMPORTÂNCIA NA REDE DE SAÚDE PÚBLICA E NO TRATAMENTO DE TRANSTORNOS MENTAIS

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Olá, sou Chrístopher Cardozo da Silva, estudante de psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA).  Através dessa postagem deixo minha contribuição a respeito da clínica ampliada, seu contexto de importância em relação ao tratamento e incidência nos transtornos mentais na saúde pública e sua conexão com aspectos sociais.

Habitualmente estamos acostumados a identificar o perfil de um psicólogo relacionado a um profissional que atua exclusivamente no atendimento em uma clínica tradicional, hábito este que provém desde o final do século passado (FERREIRA NETO, 2010). Em contraponto a esse modelo autônomo baseado na psicoterapia individual surgiu a psicologia de clínica ampliada, alicerçada na comunidade e desenvolvida com um grupo multiprofissional que procura estabelecer visitas a domicílio, equipes psicoeducativas, tornando-se efetivamente ampla, pois atende pessoas de todas as classes sociais oferecendo desde terapias comunitárias a campanhas pedagógicas (MURTA; MARINHO, 2009).

Contudo, uma grande questão presente em nossa sociedade contemporânea são os transtornos mentais, que de acordo com Miranda (2008), são condições clínicas qualificadas como, por exemplo, a modificação na maneira do humor, de pensar e/ou comportamental do indivíduo, relacionada com o sofrimento e degradação do funcionamento pessoal, assim podendo ser descrito também como um problema de saúde pública. Não obstante, existem muitos aspectos que influenciam na incidência de problemas psicológicos, sendo: históricos, culturais, sociais e assim por diante.

Segundo Santos e Siqueira (2009), indivíduos considerados adultos jovens apresentam alguns fatores socioeconômicos em comum que corroboram para a ocorrência de transtornos mentais, como, o baixo nível de escolaridade, o desemprego, a baixa renda, o trabalho de maneira informal, situações precárias de moradia e a impossibilidade de alcançar bens básicos de consumo. Outro ponto importante nesse tema é o apoio social, Drummond, Radicchi e Gontijo (2013), em suas pesquisas constataram que o grupo de indivíduos no qual a pessoa mantém contato é fundamental para preservar uma dimensão de afeto, pois com a fragilidade dessa perspectiva o ser humano com Transtorno Mental pode se encontrar em isolamento social. Complementando, é possível perceber que as questões sociais são eventos que causam forte relevância na incidência, na causa e no desenvolvimento de um transtorno mental.

Relacionado os aspectos sociais com a clínica ampliada é possível verificar que várias demandas apresentadas pelo corpo social são atendidas por essa prática ampla, por conseguinte designando-se como uma importante técnica a ser empregada. De acordo com Ferreira Neto (2010), o SUS, por sua vez, através de suas mudanças progressivas vem possibilitado consideráveis avanços no desenvolvimento de uma atividade ampliada mais pertinente por parte dos psicólogos nesse contexto. Em conformidade com isso, Murta e Marinho (2009), destacam que sua experiência baseada na clínica ampliada foi positiva, elas conduziram um grupo promovendo empatia, encorajando os participantes na identificação de desejos e na elaboração de metas de vida, de forma que fosse possível visualizar o homem como capaz de procurar novos modos de ser, em busca de crescimento e resiliência, ainda deixando clara a importância da atividade multidisciplinar na integração da equipe.

Com relação ao modelo terapêutico indicado para casos de transtornos mentais, Drummond, Radicchi e Gontijo (2013), ressaltam a importância da inclusão de espaços sociais que promovam atendimento multiprofissional, o apoio familiar, práticas de atividades esportivas (culturais), visitas por equipes de saúde da família e entre outros.

A partir disso, reforça-se a relevância de um maior emprego, amplos investimentos na clínica ampliada e na integração de todos os segmentos de nosso sistema de saúde, a fim de melhorar o cuidado com os indivíduos, abreviando questões sociais desfavoráveis, que são uma das causas de problemas psicológicos, promovendo uma melhor qualidade de vida e, consequentemente, uma saúde pública mais favorável.

REFERÊNCIAS:

DRUMMOND, B. L. C.; RADICCHI, A. L. A.; GONTIJO, E. C. D. Fatores sociais associados a transtornos mentais com situações de risco na atenção primária de saúde. Revista Brasileira de Epidemiologia, Belo Horizonte, p. 68-80, jun. 2013.

FERREIRA NETO, J. L. A atuação do psicólogo no SUS: análise de alguns impasses. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 30, n. 2, p. 390-403, set. 2010.

MIRANDA, C. A.; TARASCONI, C. V.; SCORTEGAGNA, S. A. Estudo epidémico dos transtornos mentais. Avaliação Psicológica, Porto Alegre, v. 7, n. 2, p. 249-25, ago. 2008.

MURTA, S. G.; MARINHO, T. P. C. A clínica ampliada e as políticas de assistência social: Uma experiência com adolescentes no Programa de Atenção Integral à Família. Revista Electrônica de Psicologia e Políticas Públicas, Goiânia, v.1, n.1, p. 58-72, mar. 2009.

SANTOS, É. G.; SIQUEIRA, M. M. Prevalência dos transtornos mentais na população adulta brasileira: uma revisão sistemática de 1997 a 2009. J. bras. psiquiatr., Rio de Janeiro, v. 59, n. 3, p. 238-246, ago. 2010.