Compartilho com vocês esse importante relato de experiência e aprendizado que marcou a minha passagem pelo CAPSI Luíz da Rocha Cerqueira – “Coelhinhos da páscoa”
Sou Muhammad R. S. Samati, estudante de medicina da faculdade de medicina da UFAL – FAMED, estagiário de Saúde Mental no CAPSI em regime de internato.
Fonte: imagem de grupo de atividade – autorizada pela responsável de imagem de CAPSI
De antemão, vale ressaltar que o estágio de saúde mental, despertou em mim vários olhares sobre as diversas formas de abordagens na psiquiatria, dentre eles, críticas e apelo a mudanças nas abordagens manicomiais e um olhar de admiração e apoio às abordagens e dinâmicas multiprofissionais praticadas nos CAPS.
Ao longo do meu estágio no CAPSI, tive a oportunidade de participar de inúmeras atividades, dentre elas plantões ou acolhimento, reuniões familiares, dinâmicas de grupo e individual com fonoaudiólogo, com psicólogo, atividades artesanais, atividades com professor de educação física e entre outros…
Participei de uma atividade artesanal com usuários, inicialmente, a professora pediu para que todos apresentassem, em seguida, passou as instruções aos usuários sobre a atividade a ser realizada, a qual foi alusiva à Páscoa, sendo assim, a proposta era produzir um coelho através de desenhos prévios, corte de peças e acabamento com cola.
Vale frisar que, o coelho teria acoplado nele uma cesta, que servirá para guardar os ovos de páscoa recebidos como presente dos entes queridos. A professora desafiou os usuários a escolherem as cores preferidas de papéis que irão usar, percebe-se que as meninas optaram pela cor de rosa, enquanto os meninos escolheram azul, amarelo e branco. Após a escolha de cores, a professora passou as formas para usuários, as quais serviriam como base para desenho ideal, no entanto, usuários iniciaram a fazer marcação, desenho e cortes de peças.
Os usuários aparentemente gostaram da atividade proposta pela professora de artesanato, percebe-se que estavam engajados, a maioria apresentava facilidade correlação ao desenho, porém uma minoria tinha dificuldade e precisava de ajuda, a instrutora estava acompanhando todos os detalhes atentamente e, tirava dúvidas a quem apresentava dificuldades, esse espírito de trabalho em equipe fez com que todos se sentissem mais à vontade.
Após a marcação e corte de peças, a instrutora passou as instruções sobre a forma correta de juntar as peças para formar um coelho e o respectivo cesto para guardar ovos de páscoa, como anteriormente proposto.
Segundo esse relato, pode-se perceber que as formas de abordagens terapêuticas dos CAPS, colocam o usuário no centro de tudo, o próprio paciente participa do seu processo terapêutico, sentindo-se dentro de uma rede que o enxerga, além do seu CID ou diagnóstico e decisão parcial e vertical sobre seu processo terapêutico, mas sim, como um ser social, que precisa de interação social, favorecendo sua manutenção na sociedade, que por si só trata-se de terapia.
É de suma importância a abordagem multiprofissional, visto que compreende-se o paciente/usuário em sua integridade, pois busca contemplar todas as necessidades deste, prevenindo as internações desnecessárias, que muita das vezes, só contribuem para o pior desfecho do quadro do usuário, é perceptível que essa prática desintegra o paciente completamente da sua rede social e de atenção, e, colocando-o em total isolamento, por isso, precisamos dizer não à manicômio, apoiando firmemente, a luta antimanicomial e uma abordagem cada vez mais humanista. Esse olhar possibilita uma maior eficácia no tratamento e na promoção da saúde.