Este poema é fruto de um trabalho de territorialização, e divulgado na I mostra de experiências em saúde de Jaboatão dos Guararapes no de 2018. Na época, eu estava como Psicólogo Residente em Saúde da Família, e fui inspirado com o trabalho em campo com os agentes de saúde e os colegas residentes. Muito inspirado também pela professora Mauricéia Santana, enfermeira sanitarista e professora da disciplina de territorialização em saúde.
Poema Territórios em Movimento
As ruas não são iguais.
Os bairros não são iguais.
As casas, as vozes, as vidas –
PASMEM –
também não são iguais.
No território da saúde,
ninguém é cópia de ninguém.
Desigualdades brotam
em vielas abafadas,
em lajes sobre lajes,
em cômodos que mais parecem esconderijos
do mundo lá fora.
Mas ali, ali também pulsa vida.
Dor compartilhada,
alegria dividida.
Afeto que resiste entre os vãos do concreto.
Estamos falando de realidades.
R-E-A-L-I-D-A-D-E-S.
Que não cabem em planilhas,
nem se ajustam a protocolos.
Território é chão e história.
É mapa traçado com passos e afetos.
Cada visita domiciliar
é um mergulho na existência.
Cada acolhimento,
um pacto silencioso de cuidado.
Há quem diga:
“Lugares de pobreza são todos iguais.”
Mas vejam só:
uns andam sobre paralelepípedos tortos,
outros afundam os pés na lama.
Há crianças descalças rindo alto,
homens de copo na mão e esperança em baixa,
mulheres silenciadas pela dor,
mas também aquelas
que erguem a voz e costuram redes.
Sim, o tráfico seduz,
a droga distrai,
a dor anestesia.
Mas também há agente de saúde
que conhece cada nome,
cada rosto.
Há encontro no posto,
há vínculo que se constrói com escuta,
com o olho no olho,
com presença.
O território desafia,
mas também ensina.
Na ausência de acessos,
erguem-se pontes feitas de cuidado.
Na dureza do cotidiano,
floresce a potência do coletivo.
É isso.
As ruas não são iguais.
As pessoas, menos ainda.
Mas nesse emaranhado de diferenças,
há força.
A força de quem acredita
que saúde se faz com gente,
com território,
e com o sonho de que a igualdade
não seja só um ideal,
mas um destino possível.
05 de Junho de 2018
Alberis Luís – Psicólogo, Residente em Saúde da Família.