Olá! Meu nome é Jackson Gonçalves, sou interno do estágio em Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFAL e, neste relato, compartilho minha experiência e os aprendizados que vivenciei nos últimos meses no CAPS Dr. Rostan Silvestre.
Durante o meu estágio neste serviço tive uma vivência enriquecedora, que ampliou minha compreensão sobre a atenção psicossocial e o cuidado a usuários. No início, o CAPS estava em reforma, e minha experiência foi mais voltada para o atendimento clínico. Com a conclusão da reforma, o serviço retomou suas atividades plenamente, oferecendo novamente outras atividades aos usuários.
Mais que reforçar alguns conhecimentos prévios, essa vivência mostrou, na prática, que o cuidado em saúde mental transcende em muito a simples intervenção médica. A assistência que presenciei lá abrange uma abordagem integral, que inclui terapia ocupacional, psicoterapias, jogos coletivos, atividades físicas, educativas e artísticas. Esta visão ressoa com os princípios defendidos por Nise da Silveira, que destacava a importância do vínculo, da arte e da humanização no cuidado psiquiátrico. Observar de perto a maneira como diversas abordagens terapêuticas auxiliam na recuperação dos usuários foi significativo para ampliar meu entendimento sobre a saúde mental. Além disso, o contato com a equipe multidisciplinar evidenciou para mim a importância da colaboração no atendimento.
Também participei de eventos culturais promovidos pelo CAPS, incluindo performances musicais e, mais recentemente, do “Carna CAPS”, em que usuários, familiares e profissionais do serviço desfilavam fantasiados ao som de marchinhas de carnaval tocadas ao vivo por uma banda. Tais ações são essenciais para incentivar a integração, o bem-estar e a inclusão social dos usuários, promovendo a essência do atendimento psicossocial. Ao longo dessas atividades, notei como a arte e a cultura atuam como instrumentos terapêuticos, oferecendo aos pacientes um ambiente de expressão e pertencimento.
Também fui fortemente impactado pelo legado da Dra. Nise da Silveira, pioneira na utilização da arte como ferramenta terapêutica. A sua perspectiva humanizada inspira, ainda que de maneira discreta, porém progressiva, práticas no CAPS até os dias atuais. Ao participar das atividades, ficou claro como a arte possibilita que os usuários manifestem emoções e recuperem sua identidade, muitas vezes ofuscada pelo seu diagnóstico psiquiátrico. Em muitos serviços hospitalares, é comum que sintomas apresentados sejam imediatamente atribuídos à condição psiquiátrica, sem uma avaliação mais ampla. No CAPS, no entanto, vi na prática como a abordagem humanizada reconhece os usuários para além de seus transtornos, valorizando sua história, individualidade e potencial criativo como parte essencial do cuidado, reforçando a importância de um tratamento que vá além da intervenção médica tradicional.
A vivência no CAPS Dr. Rostan Silvestre ampliou minha visão sobre a psiquiatria e a saúde mental, principalmente do acolhimento e da colaboração multiprofissional. Essa experiência me fez compreender a necessidade de um atendimento sensível às dimensões emocionais, sociais e culturais dos usuários, alinhado aos princípios defendidos pela SUS. Gratidão pela experiência.
Por Sérgio Aragaki
Muito bom saber a respeito de sua experiência no estágio. Para além do trabalho multidisciplinar (cada um faz a sua parte, na sua “caixinha”), muitas vezes o que se faz é o trabalho interdisciplinar (ou seja, há diálogos entre membros da equipe, traçando e executando um trabalho coletivo, integrado) e, sempre que possível, se faz um PTS (Projeto Terapêutico Singular), com a participação ativa da pessoa usuária e de sua rede sóciofamiliar.
Seguimos na Luta Antimanicomial!
AbraSUS!