Roda de Conversa online: Rotina na residência de Medicina da Família e Comunidade

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                Sou residente de Medicina de Família e Comunidade do Hospital Regional de Presidente Prudente- SP e fui convidada pela Liga Acadêmica de Saúde da Família da Comunidade da UNOESTE para realizar uma Roda de Conversa online sobre minha experiência nesse primeiro ano da residência, no dia 21/03/2022 com os integrantes da Liga.

                Sendo assim, iniciei comentando sobre a rotina da residência, que no primeiro ano além de estar presente na rotina da Estratégia de Saúde da Família (ESF), realizei consultas nos ambulatórios de Dermatologia, Tuberculose, Saúde do Idoso e estágio por 2 meses na Psiquiatria, desde atenção primária nos CAPS, até terciária em Plantões do Hospital Regional. O mais importante é frisar o quanto a escolha em ser médica da família engloba realmente um pouco de cada especialidade e estar tendo a oportunidade de vivenciar isso durante a residência enriquece a minha formação.

                Afinal, a singularidade da ESF está na forma de produzir as ações de saúde com centralidade na pessoa e família, no vínculo com o usuário, com integralidade, coordenação da atenção, articulação com a rede assistencial, participação social e atuação intersetorial. Sendo importante uma equipe que busca os mesmos princípios nos atendimentos, desde agentes comunitários, técnicos de enfermagem, enfermeiros, recepcionistas, nutricionistas, psicólogos e médicos.

              Ao abrir as discussões para os ligantes, houve indagações sobre como foi o primeiro ano da residência em meio a pandemia. Em relação a isso, houve diferença em relação ao fluxo de pacientes que estava reduzido e ausência dos grupos de diabéticos e hipertensos, no entanto, esse ano já temos a rotina completa novamente.

                Além disso, conversamos sobre atributos dentro da Atenção Primária à Saúde, sistematizados por Starfield (1992) sendo quatro atributos essenciais:

– Acesso de primeiro contato do indivíduo com o sistema de saúde: acessibilidade e utilização do serviço de saúde como fonte de cuidado a cada novo problema ou novo episódio de um mesmo problema de saúde, com exceção das verdadeiras emergências e urgências médicas.

– Longitudinalidade: existência de uma fonte continuada de atenção, assim como sua utilização ao longo do tempo. A relação entre a população e sua fonte de atenção deve se refletir em uma relação interpessoal intensa que expresse a confiança mútua entre os usuários e os profissionais de saúde.

– Integralidade: leque de serviços disponíveis e prestados pelo serviço de atenção primária. Ações que o serviço de saúde deve oferecer para que os usuários recebam atenção integral, tanto do ponto de vista do caráter biopsicossocial do processo saúde-doença, como ações de promoção, prevenção, cura e reabilitação adequadas ao contexto da APS, mesmo que algumas ações não possam ser oferecidas dentro das unidades de APS. Incluem os encaminhamentos para especialidades médicas focais, hospitais, entre outros.

– Coordenação da atenção: pressupõe alguma forma de continuidade seja por parte do atendimento pelo mesmo profissional, seja por meio de prontuários médicos, ou ambos, além do reconhecimento de problemas abordados em outros serviços e a integração deste cuidado no cuidado global do paciente. O provedor de atenção primária deve ser capaz de integrar todo cuidado que o paciente recebe através da coordenação entre os serviços.

              Ademais, a presença de outras três características, chamadas atributos derivados, qualificam as ações dos serviços de APS (STARFIELD, 2001):

– Atenção à saúde centrada na família (orientação familiar): na avaliação das necessidades individuais para a atenção integral deve-se considerar o contexto familiar e seu potencial de cuidado e, também, de ameaça à saúde, incluindo o uso de ferramentas de abordagem familiar.

– Orientação comunitária: reconhecimento por parte do serviço de saúde das necessidades em saúde da comunidade através de dados epidemiológicos e do contato direto com a comunidade; sua relação com ela, assim como o planejamento e a avaliação conjunta dos serviços.

– Competência cultural: adaptação do provedor (equipe e profissionais de saúde) às características culturais especiais da população para facilitar a relação e a comunicação com a mesma.

                Uma Roda de conversa entre residentes e acadêmicos é de suma importância para que cada aluno possa sanar as dúvidas em relação a escolha da especialidade após a graduação, pois o tempo de estágio dentro do internato é curto e não possui uma visão ampla da rotina das especialidades. Afinal, quantos formados não saem com dúvidas sobre isso? Clínica ou cirúrgica? Gosto do ambulatório, mas não sei se daria conta da rotina…Essas são algumas perguntas de um recém-formado e não é só na Medicina, em todas as escolhas profissionais que possuem um leque de possibilidades após a graduação. Portanto, sempre que houver possibilidade de estar próximo de algum especialista da área que deseja, aproveite!!

                Agradeço a Liga Acadêmica de Saúde da Família da Comunidade da UNOESTE-PP pelo convite.

Bibliografia: Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidade de saúde, serviços e tecnologia. Brasília; 2002.