Transformando Vidas: A Experiência no CAPS Infantojuvenil Dr. Luiz da Rocha Cerqueira
O seguinte texto trata da experiência e aprendizado de estágio no CAPSI de Maceió dos internos de Medicina da Universidade Federal de Alagoas: Luís Filipe dos Santos Costa e Guilherme Augusto Barcelos.
O estágio no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSI) Dr. Luiz da Rocha Cerqueira, em Maceió, foi uma experiência fundamental para a formação profissional enquanto internos de medicina da Universidade Federal de Alagoas. Tal vivência nos permitiu compreender a importância do cuidado em saúde mental em um serviço substitutivo aos hospitais psiquiátricos, oferecendo um atendimento humanizado e centrado no sujeito. O CAPSI se configura como um espaço de acolhimento e tratamento multidisciplinar, promovendo não apenas o atendimento clínico, mas também o fortalecimento do vínculo social e familiar dos usuários. A inserção nesse contexto possibilitou uma compreensão prática dos princípios da reforma psiquiátrica e da necessidade de construir um modelo de atenção que respeite os direitos e a singularidade dos indivíduos.
Durante o estágio, primeiramente tivemos a oportunidade de participar de consultas ambulatoriais com psiquiatras, onde pudemos observar o manejo clínico dos transtornos mentais na infância e adolescência, o que se aproxima mais da nossa vivência no ambiente acadêmico da faculdade. No entanto, o contato com os usuários e seus familiares permitiu visualizar a complexidade do tratamento psiquiátrico, que vai muito além da prescrição medicamentosa. Foi possível perceber a importância da escuta qualificada e do estabelecimento de um vínculo terapêutico para a adesão ao tratamento. Além disso, o acompanhamento da equipe multiprofissional evidenciou a necessidade de uma abordagem integrada, onde diferentes olhares contribuem para um cuidado mais abrangente e eficaz.
Outro aspecto enriquecedor foi a participação nas oficinas terapêuticas, que incluíram atividades de artesanato conduzidas por oficineiros e artesãos, fonoaudiólogos, fotógrafos e outros profissionais, além das oficinas de atividade física com educadores físicos. Essas atividades foram essenciais para compreender o impacto do trabalho terapêutico não apenas no desenvolvimento cognitivo e motor dos usuários, mas também na sua autoestima e integração social. A valorização da expressão artística e do movimento corporal como ferramentas terapêuticas reforça a potência do CAPSI como espaço de promoção de saúde, indo além da visão patologizante dos transtornos mentais e focando nas potencialidades de cada indivíduo. Além disso, foi através delas que pudemos perceber o cuidado da equipe com os usuários, que se preocupam em conhecer suas histórias e se conectam com suas particularidades de forma genuina e acolhedora.
A participação em reuniões com os pais dos usuários foi um dos momentos mais marcantes do estágio. Nessa ocasião, foi possível entender a importância da família no processo terapêuticos, os desafios enfrentados no cotidiano e como os usuários, mais do que nunca, são indivíduos que se estendem para além de seus diagnósticos, mas que se inserem em um contexto que lhes influencia a vida e fundamentam seu processo terapeutico. Dessa forma, o compartilhamento de experiências entre os familiares e a equipe multiprofissional proporcionou uma visão ampliada sobre as dificuldades e avanços dos usuários no tratamento.
Além disso, a escuta das preocupações e condições das famílias permitiu refletir sobre a necessidade de um atendimento que também contemple o suporte e a orientação aos cuidadores. Compreender esse outro lado da assistência em saúde mental reforçou a convicção de que um cuidado integral e humanizado é essencial para a efetividade do tratamento. Essa experiência consolidou o entendimento de que a medicina, quando aliada a uma perspectiva multidisciplinar e comunitária, tem um papel fundamental na transformação da assistência em saúde mental, promovendo dignidade e qualidade de vida aos usuários e seus familiares.
Por fim, a experiência no CAPSI de Maceió nos demonstrou como o cuidado multidisciplinar e anti-manicomial muda a vida de crianças e adolescentes de forma tão profunda. Apesar de enfrentar dificuldades de demanda e logística, por serem o único CAPSI de Maceió para atender os 8 Distritos Sanitários da capital, os profissionais o fazem todos os dias com empenho e sorriso no rosto, sob gestão competente e responsável.
Por Sérgio Aragaki
Muito para além do trabalho multidisciplinar (“cada um faz a sua parte, cada um na sua caixinha”), a proposta é que o trabalho ocorra interdisciplinarmente (equipe trabalhando integrada, dialogando, planejando e combinando a execução de um projeto de cuidado corresponsabilizado). Esse é um dos diferenciais que precisa ocorrer na saúde pública.
A inclusão efetiva da pessoa em sofrimento e de membros de sua rede familiar e comunitária faz toda diferença no cuidado, melhora o próprio trabalho na saúde e o valoriza, assim como traz bom reconhecimento a quem o faz, uma vez que há maior satisfação de quem usa os serviços de saúde.
Seguimos na Luta, transformando e melhorando a saúde em nosso país.
AbraSUS!