Vivências no CAPSI: aprendizados em saúde mental, escuta qualificada e cuidado em liberdade.
ISABELLE ATAÍDE CORREIA LIMA BRANDÃO e MILENA FIGUEIREDO DE MEDEIROS
Estudantes do Internato em Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas
Somos estudantes do Internato em Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas e, nesta postagem, compartilhamos alguns dos aprendizados vivenciados durante nosso estágio no CAPSI Dr. Luiz da Rocha Cerqueira, localizado no Conjunto José Tenório, em Maceió/AL. Essa experiência foi marcante e teve um impacto profundo na nossa formação, proporcionando contato direto com as práticas que sustentam o cuidado em Saúde Mental dentro da lógica da Atenção Psicossocial.
Estar no CAPSI foi mais do que cumprir uma etapa obrigatória do curso. Foi entrar em um espaço onde as trocas humanas se tornaram centrais para o aprendizado. Convivemos de perto com usuários e com uma equipe multiprofissional engajada, e isso nos fez repensar o modo como compreendemos o sofrimento psíquico e o cuidado em saúde.
Participamos de acolhimentos, atendimentos médicos e clínicos, oficinas terapêuticas, reuniões de equipe e rodas de conversa. Cada uma dessas experiências nos aproximou de um modelo de cuidado mais acolhedor, baseado no vínculo, na escuta e na corresponsabilidade entre os profissionais e outros trabalhadores do serviço, sempre com foco na singularidade de cada pessoa atendida.
Um dos aspectos que mais nos tocou foi perceber o poder da escuta atenta e do vínculo como elementos fundamentais para o cuidado. Ao contrário do modelo biomédico tradicional, no qual muitas vezes a consulta se reduz à queixa e à prescrição, no CAPSI fomos estimuladas a olhar para o sujeito em sua totalidade, compreendendo que o cuidado se constrói em rede e de forma horizontal.
Acompanhamos situações desafiadoras que exigiram sensibilidade, empatia e disposição para dialogar com diferentes saberes. Foi um exercício constante de escuta ativa e abertura para compreender o contexto de vida de cada usuário, respeitando seus tempos, histórias e singularidades.
Outro ponto importante foi o contato direto com os princípios da Reforma Psiquiátrica e com os desafios da Luta Antimanicomial. Observamos como o CAPSI se posiciona como um espaço de resistência frente às práticas excludentes e institucionalizantes, promovendo cuidado em liberdade, com base no acolhimento, na valorização da autonomia e na inserção social das pessoas em sofrimento psíquico.
Mais do que um discurso, vimos na prática como esses princípios são colocados em ação, reafirmando a importância de políticas públicas comprometidas com os direitos humanos e com a dignidade das pessoas atendidas.
Encerramos esse estágio com uma sensação de transformação. O tempo vivido no CAPSI ampliou nossa visão sobre o cuidado em saúde, nos aproximou dos usuários de forma humanizada e nos fez refletir sobre nosso papel como futuras médicas. Levamos conosco a certeza de que a prática em Saúde Mental precisa ser construída coletivamente, com base na escuta, no respeito e na corresponsabilização entre todos os envolvidos.
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