Mulheres e homens na RHS

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Na primeira foto, mítica em nossa breve história da rede Humaniza SUS, só aparecem mãos femininas.

A pergunta da Lílian sobre o significado da RHS está gerando muitos comentários. Enriquecem sua pesquisa o conteúdo de todos os nossos comentários.

Mas o silêncio também fala. Hoje, ao ver o número de comentários vi que só os meus eram de um homem. Os demais todos de mulheres. A rede tem um forte tom feminino? Nós homens postamos bastante e somos bem comentados. Mas transbordamos menos.

Persistem em nós os rituais de autoridade e prestígio? Assinalo o debate em que lembrei que os comentários dos consultores turbinavam postagens e que os “nós” de convecção na RHS se encontravam pela itinerancia realizada pelos consultores em todo o país.

A iminência de um colapso de gestão em meio a um aumento progressivo dos gastos com saúde tem absorvido a energia do gênero masculino? Existe uma política do cuidado hegemônica entre as mulheres? Existe uma ação de baseada em acúmulo de poder e seu uso em surtos explosivos de parte dos homens?

Nesta ordenação institucional da PNH se encontram entrelaçados aspectos de poder e de política. Os ritos de poder, no sentido de atuações de prestígio hierárquico. E os encontros políticos, no sentido de equações da vida coletiva e sua viabilidade. Ambos habitam simultaneamente qualquer espaço coletivo. Minha questão é se isso explica a timidez masculina em transbordar. Em atribuir significado afetivo.

Uma mente coletiva não teme a esquizofrenia. Serve-se dela. Pensamos com Fugante, Passos, Paulon, Benevides e outros teóricos da subjetividade e da esquizoanálise. Pensamos também com Bruno Latour, John Gray, Bourdieu, Bauman e inúmeros outros. Um inventário desses não é uma cartografia de cultos religiosos ou seitas de pensamento. Não é um inventário de prestígios hierárquicos da moda. Especialmente neste momento em que “tudo” está na moda.

Na RHS não está em jogo que tem os olhos mais abertos, quem produz e consome mais verdades. Mas isso não implica necessariamente que rituais de poder e de ascendência hierárquica com as decorrentes posturas de submissão e domínio não estejam presentes em qualquer coletivo, inclusive o nosso.

Na RHS, pude ensaiar algo como uma “Pequena Cartografia das Sexualidades Militantes” para iniciar uma conversa sobre nossos ritos de autoridade baseados em posições de prestígio. Esta postagem também tem sido comentada só por mulheres.

Então, a RHS é também um espaço em que o reflexo dela mesma pode emergir no espelho da crítica . Como neste meu pequeno comentário que agora preservo como postagem aqui em meu blog.

Um lugar de cuidado será sempre um lugar de hegemonia feminina? Certamente não por nossa intensão consciente.

Mas sem dúvida nosso devir lobo, quem sabe melhor ainda, nosso devir símio, nos impeça de significar o subjetivo tão bem como, nós homens, ousamos dar nome e sentido às “coisas” objetivas.

Para mim a RHS e a PNH são lugares/dispositivos/ferramentas para equipar os homens para ser pai num devir próprio e não feminino, para o cuidado do outro, da outra, dos contratos, das moradas, da cidade, das florestas, dos animais e de tudo o que comunga com a potência da vida. Para aceitar o devir que Fuganti define: "Tornar-se outro é mais do que tornar-se como o outro".