‘Doce Atenção’: Um olhar cuidadoso na prevenção das complicações em pacientes diabéticos.

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INTRODUÇÃO
      O diabetes mellitus, tem se tornado uma das doenças crônicas mais frequentes nos últimos anos com considerável aumento de prevalência e incidência. Em 1995, atingia 4% da população adulta e mundial; em 2025 alcançará 5,4%. Esse número ocorrerá nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil; nestes países, a faixa etária que prevalecerá na concentração dos casos será entre 45 a 64 anos 1
     O impacto da doença se mostra preocupante do ponto de vista da Saúde Pública em função da morbidade, da mortalidade e dos custos sociais ou econômicos. Independente do tipo de diabetes, a hiperglicemia está associada, em longo prazo, com complicações teciduais, as chamadas complicações crônicas do diabetes: retinopatia, nefropatia e neuropatia além, de doença arterial coronariana, doença cerebrovascular e doença vascular periférica.
     A Nefropatia Diabética acomete cerca de 40% dos pacientes diabéticos e é a principal causa de insuficiência renal em pacientes que ingressam em programas de diálise. A mortalidade dos pacientes diabéticos em programas de hemodiálise é maior do que a dos não diabéticos. Cerca de 40% dos pacientes morrem no primeiro ano de tratamento, principalmente por doença cardiovascular3. A razão para considerar triagem para início de estágio da DRC inclui o: Elevada e crescente prevalência da DRC; fatores de risco conhecidos; numerosas consequências adversas à saúde; a longa fase assintomática; a disponibilidade de testes de rastreio potenciais para DRC; e a disponibilidade de tratamentos que possam alterar o curso da fase precoce de DRC e reduzir as complicações da fase inicial da DRC ou nas suas condições de saúde associados. Para o rastreio da DRC nesses pacientes, tanto a dosagem de micro/macroalbuminúria na urina quanto a Taxa de filtração glomerular são métodos sensíveis para avaliar anormalidade na função renal desses pacientes4.
      A Retinopatia Diabética (RD) se relaciona fortemente com a duração da doença e é a principal causa de cegueira em pacientes entre 25 e 74 anos 5. A maioria dos casos de cegueira (90%) é relacionada à RD e pode ser evitada através de medidas adequadas. Que diminuem a progressão das lesões retinianas, não revertendo os danos já estabelecidos. Portanto, é imperativo que seja feito o diagnóstico da RD em suas fases iniciais antes que lesões que comprometem a visão tenham ocorrido.
      A neuropatia diabética é a causa de neuropatia mais comum no ocidente. Amputações de membros inferiores ocorrem 100 vezes mais frequentemente em pacientes com diabetes7. Pacientes diabéticos com úlceras nos pés representam a maioria dos pacientes internados em enfermarias dos Serviços de Endocrinologia nos Hospitais Universitários e maior parte das lesões deve-se à diminuição da sensibilidade, alteração que pode ser facilmente detectada através de exame da sensibilidade nos pés 8,9.
     Sabe-se hoje que o diagnóstico e intervenção terapêutica precoce para a manutenção do bom controle glicêmico possibilita a prevenção das complicações nesses pacientes, reduzindo o papel do diabetes como fator de mortalidade e melhorando a qualidade de vida da população acometida por essa doença. Nesse contexto, três estudantes do curso de medicina da universidade federal do rio grande do norte iniciaram um projeto de intervenção voltado para o cuidado mais intenso nos pacientes diabéticos da uniadde básica de Eloy de Souza em Macaíba, utilizando formas de rastreamento das principais complicações crônicas citadas.

OBJETIVOS GERAIS
      Intervir na população diabética, rastreando as complicações crônicas da doença, com enfoque em orientações sobre prevenção e otimização da terapêutica para mudar o curso da doença e melhorar a qualidade de vida de seus portadores.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
      De maneira mais específica, buscamos rastrear na população de risco casos de nefropatia, retinopatia ou neuropatia para intervirmos na evolução do doença, tentando minimizar esses agravos, bem como instituir orientações para preveni-los em pacientes não comprometidos. Além disso, capacitamos a equipe de saúde (ACS), principal elo entre a comunidade e a unidade básica, no intuito de dar seguimento ao projeto, em especial na realização de exame físico de rastreio de neuropatia periférica. Enfim, buscamos deixar o legado da atenção especial a esses doentes levando em conta a importância desses agravos e a possibilidade de preveni-los ou de redução de danos, gerando um maior bem estar a esse grupo populacional.

METODOLOGIA
Desenho e Marco

     Trata-se de um estudo Observacional transversal descritivo realizado no período 03 de Setembro de 2012 a 16 de Outubro do ano de 2012 na Microárea da Unidade básica de Saúde de Eloy de Souza, no município de Macaíba, Rio Grande do Norte.

População-Alvo/meta
      População diabética da área adscrita da unidade de Eloy de Souza, totalizando um número de 96 diabéticos, dos quais julgamos pertinente analisar pelo menos 25%.

Coleta de Dados
      Os dados foram coletados durante dois dias de intervenção através de entrevista com os pacientes, aplicação de questionário, coleta de sangue para análise de creatinina, uréia, glicemia, triglicerídeos, colesterol total, exame físico nos pés com o monofilamento e orientações gerais ao término. Para exame de fundo de olho, foi deslocada uma unidade móvel oftalmológica para unidade no dia da intervenção, no entanto nenhum profissional especializado compareceu. No primeiro dia, os dados foram colhidos na própria unidade básica de saúde, após convite feito aos pacientes diabéticos pelos ACS. No segundo dia, foi feita uma busca ativa na comunidade a procura dos diabéticos acamados e dos que não podiam se deslocar até a UBS. No contato com os pacientes já ocorria orientação para retornar à unidade com intuito de visualizar os resultados obtidos e serem orientados quanto à conduta em diante.

Análise dos Dados
      Os dados foram armazenados em um banco de dados no Excel versão 2007. Após esta entrada de dados, houve uma análise descritiva com representação em tabelas e gráficos, com posterior descrição dos resultados.

Capacitacão dos Agentes comunitários de saúde (ACS)
      A capacitação dos ACS foi feita nas próprias dependências da UBS. Foi feita uma apresentação sobre o DM, suas complicações e como realizar o teste do monofilamento nos pacientes e foi mostrada a importância no seguimento do cuidado a esses doentes, bem como da importância dos agentes comunitários na busca e na orientação dessa população.

Apresentação dos resultados à população
     Após uma semana do dia da coleta dos dados, estes foram apresentados a população após agendamento prévio. Nesse momento, a conduta a ser tomada foi discutida com os pacientes. Nesse sentido foram realizadas otimizações medicamentosas, encaminhamento para oftalmologista e nefrologista, iniciadas medicações de controle, incentivo a respeito das práticas de atividades físicas, e orientações gerais e quanto aos bons hábitos alimentares e sobre os cuidados gerais acerca do pé diabético, em especial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
      Os resultados obtidos mostraram uma adesão de 25% de toda população de diabéticos da área adscrita da unidade de Eloy de Souza. 75% dos participantes eram do sexo feminino, sendo a raça negra (42%) a que mais aderiu. Dentre as comorbidades identificadas, hipertensão arterial sistêmica (HAS) (53%), seguida de osteoporose (12%) foram as mais prevalentes; 14% negavam comorbidades. A média de idade foi de 62,9 anos (45 a 80anos). 50% eram aposentados, além de que cerca de 71% utilizam a UBS como porta de entrada à rede de saúde e 58% comparece regularmente à UBS (frequência menor ou igual que 3 em 3 meses).
      O perfil dos nossos participantes mostrou que 38% dos participantes tinha entre 10 a 20 anos de diagnóstico de DM sendo que a maioria trata a DM com monoterapia (Metformina). A maioria dos participantes tinha o peso adequado para sua estatura, sendo que 42% estavam com Índice de massa corpórea (IMC) na faixa normal (até 25kg\m2), 33% estavam sobrepesos ( 25-29kg\m2) 17% com obesidade grau I (30-34kgzm2) e 8% com obesidade grau II (35-39kg\m2). Nenhum paciente estava com obesidade grau III.
       Os resultados laboratoriais da nossa estatística mostraram que 88% não estava com a glicemia controlada  e os triglicerídeos estavam elevados em 58% dos participantes. O  rastreio da Nefropatia mostrou que 33% das pessoas apresentavam queixas urinárias e 38% tinha alteração laboratoriais da função renal. Cerca de 54% dos participantes apresentavam alguma queixa oftalmológica, sendo as mais comuns: Visão turva, perda da acuidade Para finalizar, 29% das pessoas já apresentaram algum sintoma de neuropatia periférica (dor, parestesias, paresia) e ao exame, 25% dos usuários apresentaram perda da sensibilidade protetora, definida aqui como a perda de sensibilidade em pelo menos 04 pontos (dos 12 avaliados no exame do monofilamento.
       A presença mais intensa de uma população feminina e de idosos é compatível com a maioroia dos estudos, principalmente na atenção básica10. A relação de diabéticos com HAS preocupa bastante, uma vez que nesse grupo os fatores de risco interrelacionados contribuem diretamente para o desenvolvimento de doença cardiovasculare renal11.
      É de grande valia o dado que 71% dos pacientes usam atenção básica como porta de entrada do sistema de saúde, associado ao fato de que 58% comparecem regularmente na UBS; em contraponto, foi observada elevada taxa de descontrole glicêmico (88%), dislipidemia em 58% bem como alta taxa de sintomatologia ou diagnóstico das complicações do diabetes mellitus já explicitadas. O questionamento da eficácia do atendimento nesse caso deve ser realizado. Afinal, os pacientes estão sendo atendidos na unidade básica com frequência, no entanto não mantêm metas ideais do tratamento. Uma questão pertinente seria se o médico não estaria apenas impondo restrições alimentares, por exemplo, sem oferecer alternativas para que o paciente possa desfrutar de outro tipo de prazeres para buscar uma meta ideal de tratamento? Nesse sentido, vale uma reflexão da eficiência do programa do HIPERDIA, da consulta e das orientações médicas realizados.

CONCLUSÕES
      A importância do estudo para a realidade da Unidade em que foi realizada foi bastante satisfatória no sentido em que voltou a atenção da equipe de saúde e da própria comunidade de diabéticos para uma iminente preocupação desse público com respeito às complicações causadas pela doença bem como das consequências negativas na qualidade de vida se não levadas a sério.
      A intenção de não ser uma intervenção pontual foi pensada, levando a capacitação dos agentes comunitários e implantando uma mentalidade de controle rigoroso das complicações tanto na comunidade como na equipe de saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
     O projeto de intervenção foi realizado com um intuito já especificado e a expectativa que deixa é de propagação do cuidado intensivo à saúde do idoso, em especial dos pacientes diabéticos. É importante notar que não se limita apenas a realização de consultas periódicas, mas também da orientação constante, do cuidado dinâmico e da proposição de atividades físicas e condutas alimentares substitutivas às já inerentes e não qualificadas dos pacientes para que o cuidado integral seja realizo de maneira eficiente.

IDEALIZADORES: Estudantes do Internato em Saúde Coletiva do Curso de Medicina da UFRN (Bruno Cesar F Medeiros, Herison Franklin V Oliveira e Péricles de Sousa Cardoso) sob tutoria da profa. Vilani Nunes em conjunto com a equipe de saúde da unidade básica de Eloy de Souza, Macaíba, RN.