PNH – avaliação do per(curso)

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Avaliação do per(curso)
Tenho tido uma experiência muito gratificante com o curso de Pós-graduação de formação de apoiadores da PNH. Nas primeiras aulas, nos encontros presenciais, bate-papos “on line”, nos momentos de leitura, reflexão e escrita, me preocupava com o retorno que deveria apresentar a este investimento que o Ministério da Saúde, e os usuários por extensão, estão fazendo em minha capacitação profissional.

Logo me dei conta de que o mantra que aprendemos a ouvir e repetir a partir da fala do Eduardo Passos: “cuidar do outro é cuidar de si, cuidar de si é cuidar do outro”, me aponta um caminho para a formação intervenção a que estou convocado. Ou seja, se aposta é na formação de apoiadores da PNH e se esta aposta se constituí como investimento em uma formação profissional que me oportuniza o título de Pós-graduado, o ponto de partida de minha “intervenção” deve se constituir na oportunidade de transformar minha formação em dádiva a ser entregue a meus colegas, trabalhadores do SUS.

Hoje, quando nos reunimos com a coordenadora do Centro de Saúde Modelo, (Um equipamento de saúde com mais de 60 anos de história) ouvimos de início a idéia de que qualquer processo de “humanização” deve começar pelo olhar direcionado a afirmação do sentido de ser e da auto-estima de ser servidor do SUS. Concordamos que muito do sofrimento que se agrega a tarefa de produção de saúde advém de uma má compreensão do significado de ser trabalhador da saúde no imaginário coletivo brasileiro.

Este imaginário é historicamente o lugar da caridade ou da expiação. Ou somos anjos da guarda, ou somos anjos caídos. Nunca profissionais competentes produtores de um bem concreto. No máximo somos manufatureiros do padecimento, alívio dos destinos perdidos, dos pobres que não tem mais com quem contar. Nada pode ser mais anacrônico em termos de imaginário popular.

Em termos de atendimento, de garantia do direito constitucional de atendimento em saúde, somos um sistema de saúde de mais de 50 bilhões de reais em investimentos públicos apenas na esfera federal. No entanto, é de forma empobrecida, negativa em significado que somos vistos pela população a que atendemos. Mais ainda por que é assim que esta população se vê: comuns no sentido historicamente construído, ou seja, fracassados, aqueles que dependem do serviço público, em oposição aos vencedores, os que se apropriam do bem público.

Pensemos no impacto dos indicadores de saúde da população brasileira que tem se apresentado nos últimos 20 anos, para não recuar mais ainda no tempo. Consideremos o fato de a população ter crescido muito durante este período. Atentemos para o aparecimento da pandemia da AIDS e de seu significado em nosso país, quando comparado ao continente africano, mais a erradicação de doenças, o controle das patologias crônicas, enfim, de como o significado real da atenção a saúde no Brasil é mal reconhecido. De fato os direitos negados em 500 anos de história estão sendo afirmados, ao passo em que não se tem um registro positivo deste fato no imaginário popular.

Reflitamos que a noção de valor de um bem de consumo em nossa sociedade é muito superior a seu custo de produção. Desta forma é que passamos a ter um sistema de saúde pública que é modelo em todo o mundo sem que em nenhum momento a sociedade tenha sido corretamente informada disso. Sempre que a máquina institucional do SUS, o MS, se comunica com a população através dos meios de comunicação é para promover ações de combate, de enfrentamento a situações de risco, a problemas que ameaçam a segurança da população.

Não há um espaço de celebração coletiva destas conquistas sociais. As pessoas seguem vivendo com um repertório de apreciação de suas condições de vida baseado em considerações de curto prazo. Ver-se em condições de penúria e abandono faz parte de um roteiro tradicional, de uma forma de narrar sua própria existência. Isto apesar, de tudo o que se investe em atenção e cuidado. O normal é ver-se como carente.

O exercício efetivo da cidadania é precedido pelo sentimento de ser cidadão de fato e de direito. Esta identidade coletiva não têm sido constituída na mesma velocidade em que o Estado democrático de direito vem sendo efetivado. O senso comum é anacrônico em relação ao valor da condição de ser humano comum. O valor está no indivíduo celebre, famoso e rico. Disto se aproveitam as forças reacionárias e conservadoras para privatizarem a esfera pública no que ela tem de eficiente e associarem ao público tudo que há de corrupto e perverso.