À margem do oceano de tudo o que não é humano.

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Antes de pensar a Política, ou o caminho para o bem comum, proponho levarmos em consideração Freud e Darwin. Aceitarmos o peso dos fatos que nos chegam aos sentidos, e com os quais temos meramente tornado o mundo uma abstração racional que nos envaidece.

Para propormos Políticas de Saúde Mental a Diretriz da Redução de Danos é uma forma de ética que está em relação de sinergia com a metafísica animista dos caçadores coletores de dezenas de milhares de anos atrás, e com as mais consistentes evidências da ciência atual.

O I Encontro Nacional da RAPS em Curitiba tem por objetivo principal o fortalecimento da RAPS, reunindo todos os pontos de atenção e serviços da rede. Para pensarmos esta Rede devemos buscar uma forma de consenso mínimo realista e, simultaneamente aberto a diversidade.

A polifonia estará presente e polêmicas pontuais surgirão. Sempre que o foco torna confuso a visão do todo, podemos optar por nos entrincheirarmos em metafísicas recalcadas (que são apenas Mito e Religião) baseadas na esperança e na fé. Ou podemos nos  afastarmos um pouco para observar o todo.

Então é com minha poesia que acolho a necessidade de unidade. Nos livramos de algumas ilusões, ao modo de Fernando Pessoa, perdemos nosso narcisismo gnóstico, mas ganhamos o que realmente temos: Somos parte. Nem meio e nem fim. Somos os nós da rede, as partes do mecanismo complexo do qual somos um mero tipo de expressão cognitiva, entre muitos outros.

À margem do oceano de tudo o que não é humano

Se pudêssemos relaxar um pouco nossa ansiedade.
Afrouxar as algemas do tempo.
Se pudêssemos descansar de nossos labores sem fim.
Perceberíamos que nossa questão é menor.
Não é essencial, nem central.
O importante, poderíamos quem sabe, aceitar,
Seria esta imensidão enorme de que somos uma parte ínfima: a vida.
Se nos acalmarmos, podemos ver que a inteligência está em tudo o que vive.
Fora da opressão do diminuto tempo do self,
Uma maravilhosa história pré e não humana se desenrola.
Das cores das flores, dos diminutos seres que habitam nossa pele,
e da impassiva lentidão de uma baleia azul,
há uma intensa cognição em marcha.
Que perplexidade feliz não ser um deus caído e nem o filho dileto de nada.
Mas uma parte de tudo,
neste mundo que nos chega aos sentidos…

Marco Pires