A civilização infectante e a morte cósmica

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A civilização e o vírus são os personagens de um tipo de encontro que talvez passe a ser mais frequente ao longo do século XXI.  O mundo pós-pandemia será assombrado pela consciência dos perigos das mudanças climáticas e das consequências do desequilíbrio ambiental.

A covid-19 pode ser comparada a uma febre do planeta reagindo a infecção por humanos que está alterando o ecossistema da terra. Neste exato momento estamos passando por um evento de extinção em massa, o sexto da história da terra. Mas se pensarmos essa extinção em massa como resultado de escolhas ou inclinações será mais exato  chamá-lo de o 1° evento de extermínio em massa. O bioma está sendo destruído por uma única espécie.

No roteiro previsível, que já foi filmado em Hollywood, morcegos perdem seu habitat natural com a derrubada das florestas onde viviam. Eles passam a viver nos ambientes onde os humanos encarceram animais para o abate ou tráfico ilegal.

Ao infectar um único animal que o transmite para um único ser humano, temos o início dessa pandemia. Um golpe sútil e tão devastador quanto a explosão de uma bomba atômica.

O fato é que a sociedade humana, nosso modo econômico e a civilização industrial, são muito mais frágeis do que o bioma planetário. A vida na terra é quatro bilhões de anos mais antiga do que os seres humanos. O efeito dessa pandemia poderá ir além das mortes causadas pelo coronavírus. A civilização pode colapsar na incapacidade para produzir sentido diante da imensa margem costeira de tudo que não é humano.

Para que os encontros possam ser fontes de afirmação da vida é necessário que se possa conceber o diferente, o outro, em sua vastidão. Em Intermitências da Morte, de José Saramago, somos apresentados a um tipo de morte que é superior a esta que nos colhe no aparente ciclo sem fim da vida.

Será que podemos pensar em civilizações esterilizadas do universo pela explosão de uma supernova ou um planeta devastado pela choque com um cometa? Essa pandemia coloca as possibilidades em perspectivas e as intermitências geo e biológicas em suas escalas de séculos, milênios e milhões de anos.

Sem uma relação de simbiose entre a humanidade e o ecossistema, desapareceremos e a vida continuará. Mas nas profundezas do tempo cósmicos somos convidados a meditar na transitoriedade inexorável de tudo que há.