Presenciei o sofrimento de muitas pessoas. Invariavelmente, essas pessoas arrastavam diferentes medidas de sentimento de culpa ao longo de suas jornadas de dor.
Sou profundamente cético a respeito da noção de culpa. Não tenho certezas absolutas sobre livre arbítrio. Acredito em responsabilidade. Porém, não tenho a mínima noção de como distribuí-la através do encontro das legiões caóticas onde os caminhos individuais são determinados.
Mas tenho muita convicção sobre inocência e inocentes. Carrego um gosto amargo das vivências cotidianas com desventuras desabando sobre seres imaculados.
Para muito além de uma relação de causa e consequência, apesar da antiguidade das almas, esse mundo é pródigo na produção de torturas sem sentido, Por sua natureza subjetiva, os sentimentos são insondáveis. Dores não podem ser calculadas. Somente podemos imaginar e, desse modo, toda dor é única e imensurável — mas todas as sensações indicam que não podemos fechar a conta do sofrimento humano como uma contabilidade de erros e acertos.
Vi recém-nascidos em desespero, dentro de incubadoras, durante suas primeiras horas nesse mundo: Devido ao código genético de seus pais, a um erro de cálculo de seus cuidadores ou por razões que permanecem ocultas. Vi o papel do acaso, do inesperado, da incerteza e da aleatoriedade em incontáveis tragédias.
Também conheci outros desfechos e deles não falo aqui. Com o cuidado de alguém que protege uma chama em meio ao vendaval de uma tempestade. Aguardo pelo aguaceiro no qual aceito o desafio de manter a chama acesa.
Desta chama só lhes dou uma notícia: Sou otimista.