Segunda crônica de um apocalipse engendrado

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Nesse momento em que pesa sobre toda humanidade o perigo do auto extermínio, precisamos refletir sobre as razões daqueles que entregaram seus destinos aos mitos. Não foi exatamente uma mentira. A ignomínia foi a propaganda sincera dos vencedores em 2018.

Há um início para todo tipo de ressentimento. Uma espécie de frustração da expectativa, um medo de que o nada seja a única alternativa para a iniquidade do capitalismo. Podemos dizer isso como a expressão de um pavor que emerge como uma anti utopia.

Isso aconteceu quando estávamos nos governos de Lula e Dilma no Brasil. No resto do mundo se deu como uma reação às possibilidades tecnológicas que ameaçavam estabelecer o bem comum como uma consequência da ubiquidade da dignidade humana.

Seja como for, parte da população mundial se entregou ao ressentimento por pura desconfiança contra a existência e o futuro. Um recalque dos que viveram um tempo de destruição predatória, um ensaio de ecocídio, e vendo a morte se aproximar não puderam suportar a ideia de que o mundo de iniquidade em que viveram morresse com eles.

Isso é o ressentimento: a ideia de que o bem que não pudemos vivenciar, não deve existir para mais ninguém e especialmente para as gerações futuras.

O desenvolvimento tecnológico é amoral. Contudo, ele permite resolver os problemas concretos de cada geração, em cada época da história. O ressentimento consiste no esforço de repassar nossa miséria por de trás, de modo subjacente, a cada incremento de potência que poderia aliviar nossa forma de vida da constante suspeita contra a existência.

Tendo, então, eleito Bolsonaro e seus congêneres, muitos não podem mudar de ideia sem confrontar-se com sua amargura e ressentimento. Não fazendo isso, podem estar optando por aprofundar ainda mais seu ódio contra a vida. Uma inversão está em curso. O mito do fim-dos-tempos é uma profecia que se auto realiza nos gestos de seus crentes.

Poderemos destruir a civilização e a nós mesmos pela incapacidade de, tendo apostado no caos, assumirmos a responsabilidade e corrigirmos o rumo em que nos lançamos.