Religião e Saúde Mental

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Atacar a religião é como é como tentar cortar a cabeça de uma Hidra. Onde haviam uma, nascem duas. O pensamento religioso atende a persistência em viver através da busca de um sentido final para a existência. Um erro que a filosofia de Espinosa, a teoria de Darwin, o pensamento de Freud e a moderna física teórica já demonstraram, a despeito de suas diferenças.

Então, a questão é superar o pensamento mágico religioso que fundamenta muito da atitude militante. Um pensamento humanista que se defina pela condição da qual se exclui é, em si mesmo contraditório. E no ocidente tem sido frequente a ideia de um ateísmo definido pelo contorno e as categorias do pensamento cristão. O de Paulo, não o de Jesus.

Incidir na cultura pressupõe que assumamos que estamos nela. Quando somos maniqueístas, somos como cristãos renascidos no contexto da laicidade. A complexidade do fenômeno religioso é o grande desafio dos Direitos Humanos.

Religiões reveladas no contexto do monoteísmo judaico cristão pretendem um acesso “a verdade” que, no limite, condena como erro toda a diversidade de crenças politeístas e animistas que existem desde muito antes das grandes religiões monoteístas. O judaísmo, o cristianismo e o islamismo precisam de um malabarismo teológico para que não sejam totalmente excludentes. A evangelização é um disfarce para a crença de que todos os que estão fora “da verdade”, ou que renunciaram a ela, estão eternamente condenados.

O combate ao tratamento desumano não deve se confundir com o combate a crenças religiosas. Negar a religião seria uma atitude que os crentes tomariam como uma negação deles mesmos. Como no caso do Império Romano, isso seria uma ação que os tornaria ainda mais fundamentalistas.

Uma política pública de saúde mental só pode ser laica na medida em que acolhe todas as crenças. Se não por outras razões, pelo menos pelo fato de que a crença religiosa inclui sofredores psíquicos. A Religião não trata de eliminar o sofrimento. Pode até torna-lo mais intenso. E é na busca por sentidos últimos que ela se sustenta. O problema é que sentido na religião cristã é tido como o acesso “a verdade”.

E a crença, é uma necessidade humana recorrente em qualquer campo. Mesmo o pensamento liberal, o pensamento progressista e a modernidade não estiveram isentos de produzirem religiões políticas como o positivismo, o fascismo, o nazismo e o totalitarismo.

Vem da física, da observação dos elementos, ainda antes da vida, mas incluindo ela também, a terrível formulação de Espinosa de que um poder maior pode sempre, e a qualquer momento, destruir a vida. Estrelas e sistemas solares inteiros podem ser destruídos. A vida, até onde sabemos, ocupa um lugar incipiente e fugas, no amplo esquema do universo. Por isso um pensamento voltado para os fins, “a verdade” e o sentido humano do mundo é precipitado.

Perdemos boa parte do sabor da existência concentrados na infeliz potência de racionalizarmos o mundo, segundo nossa imaginação. Como ouvimos de Fuganti, neste Encontro Nacional da RAPS, deveríamos estar ocupados em criar o mundo… Culpar alguém pelos males do mundo, perseguir um fim imaginado são meras formas tristes de persistir na vida.